A opinião de ...

Mandos e desmandos

A semana começou com uma notícia que muito irritou os portugueses, sobretudo os que, como nós, vivem perto das zonas de fronteira e, mais ainda, os que têm de a cruzar regularmente, sobretudo para irem para os seus empregos.
Rezavam as crónicas que, a partir desta segunda-feira, quem entrasse em Espanha por alguma fronteira terrestre sem um teste negativo, sem vacina ou sem provas de que já recuperou da covid-19 arriscava pagar uma coima de até três mil euros. Uma legislação aprovada no fim de semana e já em vigor obriga os turistas a terem um documento comprovativo traduzido em espanhol francês, inglês ou alemão.
Era mais um murro no estômago para a economia nacional depois da atitude tomada pelo Governo britânico imediatamente a seguir à realização da final da Liga dos Campeões no Porto (entre dois clubes ingleses e após a triste figura dos seus adeptos).
Mas, ao contrário do que aconteceu com a decisão de Boris Johnson, desta vez o Goveno de ‘nuestros hermanos’ voltou atrás.
Em causa estava uma multa que, mediante a gravidade das infrações, poderia ver os valores disparar: se a violação foi considerada grave, a multa será de três mil a 60 mil; ou será de entre 60 e 600 mil, se for considerada muito grave.
Recorde-se que as novas regras não se aplicam aos motoristas internacionais, aos trabalhadores transfronteiriços nem a quem vive a 30 quilómetros da fronteira.
Os certificados, especifica a legislação publicada no Boletim Oficial do Estado de Espanha no sábado, têm que estar redigidos "em espanhol, inglês, francês ou alemão". Se a língua original for outra - no caso, português -, o turista terá que se acompanhar de uma "tradução em espanhol realizada por um organismo oficial". Que organismo será esse, não é especificado.
Ou seja, legislação produzida no fim de semana entrava em vigor imediatamente, com impacto nos dois lados da fronteira.
Ora, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, já veio dizer que Espanha ia corrigir ontem (depois do fecho desta edição) a norma que obrigava a apresentação de prova de vacinação contra a covid-19 ou teste negativo nas fronteiras terrestres com Portugal.
O governante explicou que se tratou de uma resolução de um serviço técnico da Direção-Geral de Saúde de Espanha que “não teve em conta, involuntariamente, o facto de a gestão de uma fronteira não ser apenas responsabilidade das autoridades sanitárias, mas também das autoridades políticas e administrativas, designadamente dos ministérios da Administração Interna respetivos”.
Será que foi excesso de zelo ou distração dos serviços técnicos?
A questão é que a imagem internacional de Portugal no combate à pandemia pode não ser exatamente aquela que temos cá dentro, ou que achamos que temos.
Os sinais isso indicam.
E, enquanto não forem passados à prática, de facto, sinais fortes de responsabilidade e de descida consistente de números de infetados bem como do cumprimento das medidas decretadas, continuamos ao sabor dos achaques alheios...

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