A opinião de ...

O papel do Papa Francisco no futuro da política portuguesa

cada quatro anos, Portugal entra num rebuliço um pouco mais agudo do que o normal. Não se trata da realização de um qualquer campeonato de futebol, europeu ou mundial, mas do campeonato das autárquicas.
E cada vez que chegam estes anos especiais, tal como já assinalámos em edições anteriores, têm subido de tom quer as críticas de uns partidos aos outros por "roubarem" candidatos e assinaturas, sobretudo no cada vez mais despovoado meio rural, quer as queixas de falta de gente suficiente nas freguesias rurais para manter uma saudável luta democrática, com possibilidade de várias alternativas.
Ou seja, são cada vez mais as freguesias com candidato único por falta de alternativa.
Este problema espelha, por um lado, a incapacidade dos próprios partidos, que muitas vezes parece que são apanhados de surpresa com a realização das eleições autárquicas, e só se lembram de fazer listas nos poucos meses que antecedem o ato eleitoral. Esse é um facto mas não o facto completo.
O outro problema, a meu ver, vive-se diariamente durante os quatro anos que medeiam a realização destes atos eleitorais e é visível, sobretudo, no associativismo.
As associações têm cada vez mais dificuldade em captar jovens. Há três meses, dava-se conta, nestas páginas, de que várias associações do distrito iam perder o estatuto de associações jovens por dificuldade em conseguir elementos com menos de 30 anos para as suas direções.
Sintomas de um desinteresse cada vez maior das gerações do futuro sobre as coisas da causa pública.
Mas será (só) dos jovens o problema?
A mesma situação é apontada, muitas vezes, no seio da Igreja, com a dificuldade crescente de renovação de fiéis nas igrejas e das vocações, por exemplo.
Mas, depois, olhamos para o fenómeno que é a Jornada Mundial da Juventude, evento que Portugal vai acolher em 2023, que congrega não milhares mas milhões de jovens de todo o mundo, em redor de uma ideia lançada pelo Papa João Paulo II mas que o Papa Francisco tem aprimorado.
Ou seja, quando existe uma referência, como a do Papa, os jovens correspondem e seguem-na, sentem-se curiosos em experimentar e participar.
Na política portuguesa faltam referências, sobretudo ao nível autárquico.
Muitas vezes, por instinto de sobrevivência e para se preservarem, as elites do poder vão fechando caminhos aos mais novos, afastando alternativas de futuro.
O papel do Papa no futuro da política portuguesa é precisamente esse, de mostrar o que uma referência pode fazer para cativar os mais jovens a seguirem o caminho da causa pública. Um exemplo que, se não for atendido, desembocará num beco, sem saída, sem gente nem democracia.
E exemplos desses Portugal já teve de sobra no passado, não muito longínquo, da ditadura.
E, para esta, não há cravos que nos valham.

Edição
3849

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