A opinião de ...

A oportunidade que se perde

Bragança acolheu, no passado fim de semana, um encontro de empreendedorismo jovem com troca de experiências entre o Norte de Portugal e a Galiza (Espanha), organizado pela Federação Nacional das Associações Juvenis.
Não deixa de ser sintomático que este encontro tenha decorrido em Bragança, um distrito que, ao longo da última mão cheia de anos, tenha perdido cerca de metade das suas associações juvenis (atualmente são 37).
Um problema que, digo eu, se vai agudizar ainda mais e que se alastra a outras vertentes da sociedade, como a participação política dos jovens.
Numa altura em que as forças políticas se afadigam na caça ao candidato (as eleições autárquicas serão no outono deste ano), verifica-se que a tarefa é cada vez mais complicada.
Brevemente, andarão os responsáveis políticos, quais caçadores furtivos, de lanterna na mão e laço na outra, em busca dos jovens perdidos (leia-se inexistentes) de forma a poder complementar as listas às assembleias de freguesia e assembleias municipais (já não digo às Câmaras porque para essas ainda não faltam candidatos a candidato).
Com as restrições impostas pela lei, as Associações, para serem consideradas Juvenis (e terem as benesses daí resultantes), têm de ter agora 80 por cento dos elementos constituintes da direçã com menos de 31 anos, incluindo o presidente.
Ora, sendo que muitas das associações que temos no distrito são de âmbito de freguesia, basta olhar para a generalidade das nossas aldeias para perceber a dificuldade que está criada. Em muitas delas, o elemento mais novo entre os habitantes já passou a idade da reforma, quanto mais os 30 anos.
Ora, se a população jovem já escasseia, mais escassos são aqueles que, de facto, querem ter participação ativa na vida associativa.
Concorrer com as tecnologias que, para estas gerações, já não são tão novas assim (são os chamados nativos digitais) tornam a missão das associações ainda mais espinhosa.
E esse é um problema que não se limita a ficar confinado ao dia a dia das associações.
Qualquer pai de um jovem adolescente ou pré-adolescente de hoje em dia sabe as dificuldades que tem para introduzir a sua cria no mundo selvagem, longe de ecrãs, jogos e redes sociais digitais (sim, porque as outras, as redes sociais que se criam na rua, estão em vias de extinção).
E esta é uma tendência que os confinamentos provocados pela pandemia de covid-19 vieram acentuar. Muitos professores apontam as crescentes dificuldades para conseguir que os jovens estudantes se mantenham concentrados nas aulas presenciais, depois de meses a assistir via computador.
Este tipo de efeitos só os iremos lamentar convenientemente dentro de alguns anos, quando constatarmos um buraco na sociedade em termos de participação cívica (votar nas eleições, por exemplo).
Mas se não se começar, desde já, a tentar travar o problema, criando verdadeiros incentivos a que os jovens saiam dos seus casulos e do refúgio dos seus quartos, não evitaremos que comportamentos que agora são exceção se transformem rapidamente na regra.
Como dizia Rui Unas, apresentador, ator e youtuber, cujo público é maioritariamente jovem, é preciso que os mais novos expressem a sua juventude.
Mas, se não forem incentivados a fazê-lo, desabituam-se. E, depois, não há volta atrás...

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