A opinião de ...

Quo Vadis, sociedade?

As redes sociais são um local cada vez menos recomendável. Em tempo de eleições autárquicas, esse fenómeno ganha especial relevo, com a proliferação de perfis falsos que mais não querem do que criar confusão.
Mas nem só desses perfis se alimentam.
As redes sociais mais não são do que uma pequena janela para o mundo, não são dos postos de observação mais abrangente.
E o que se vê é que, podendo ser um espaço onde se exerce a liberdade de opinião, passa a ser um terreiro de sentenças definitivas e acusatórias, em que o tom rápida e facilmente descamba para lá da educação e do bom senso.
As opiniões determinativas ganham espaço e preponderância, ao ponto de começar a haver mais crítica destrutiva que debate de ideias.
Crítica que, pelo seu aumento de tom e de volume, acaba por exercer mais censura do que o famoso lápis azul de outros tempos.
Esta semana, o comunicador Rui Unas comentou uma fotografia da atleta Patrícia Mamona, sua amiga. Um comentário em tom de brincadeira que foi rapidamente considerado ofensivo para todo um género pelas mentes mais radicais.
Também a transmissão de uma eucaristia e as leituras do passado domingo fizeram eriçar o pêlo da nova brigada dos costumes, que rapidamente bradou contra um texto de S. Paulo, escrito há coisa de dois mil anos.
A Conferência Episcopal Portuguesa viu-se obrigada a lançar alguma luz sobre o assunto, lembrando que " é necessário “interpretar textos e tradições” com origem noutras culturas, indicando o significado das palavras “amor” e “submissão”.
“Não se trata de mandar submeter ou depreciar ninguém, mas de cuidar e dar prioridade no dom e no serviço do dia a dia”, afirma a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) em comunicado.
A CEP lembrou ainda que é “claro para a Igreja e para quem quiser interpretar textos e tradições com origem noutras culturas e noutros tempos” que “os textos não se mudam, mas educam-se os leitores a entendê-los e a atualizá-los”.
Nesta nota informativa, a CEP lembra ainda que "não se mudam os versos épicos de Camões, porque não correspondem à mentalidade atual e até, em alguns casos, podem causar escândalo. Isso seria cair na arbitrariedade e na ditadura das modas e na imposição da cultura única. É por isso que se estuda Camões nas escolas, para que todos tenham acesso à beleza dos seus versos, dentro dos condicionalismos da sua época”.
A CEP explicou que "é à luz de Cristo que se entende a dimensão do amor, até à total entrega e ao dom da vida por aqueles que se ama. E é também essa a norma para a correta interpretação de qualquer autoridade, representatividade ou primazia. Não se trata de mandar submeter ou depreciar ninguém, mas de cuidar e dar prioridade no dom e no serviço do dia a dia”.
Casos como estes vão sendo cada vez mais recorrentes.
As correntes de indignação alheia acabam por funcionar como um elemento de censura que limita e corta aquilo em que as redes sociais mais se arrogam, a liberdade de expressão.
Afinal, que sociedade estamos a criar?

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