Trocas democráticas
Os últimos dias foram pródigos em trocas, com acusações de vira-casacas.
Isto porque um elemento da lista do Partido Socialista (aliás, o número dois) se incompatibilizou com a líder e acabou por passar à condição de independente, tal como o Mensageiro tinha revelado em primeira mão logo na semana seguinte às eleições.
Esse movimento, que a lei autárquica prevê, ameaçou minar a maioria histórica conquistada por Isabel Ferreira.
Mas a investigadora não se atemorizou e meteu mãos à obra. Perante um problema, rapidamente arranjou uma solução, que, curiosamente, já tinha ficado entreaberta na grande entrevista que concedeu ao Mensageiro pouco depois de ter sido eleita.
Este deverá ser o mote da governação da antiga Secretária de Estado. Perante um problema, rapidamente procura uma solução, sem constrangimentos nem preconceitos que um político de carreira (Isabel Ferreira vem de uma carreira académica) poderia ter.
Muitas vezes, é isto que se requer, um pensamento fora da caixa. E foi precisamente por pensar de uma forma diferente dos políticos locais dos últimos 30 anos que Isabel Ferreira conquistou o resultado histórico, arredando o PSD do poder passados 28 anos.
Se fosse um político de carreira, a nova autarca poderia ter a tentação, por exemplo, de pedir logo de entrada duas auditorias (uma às contas do Município e outra às obras), para ter um ponto de partida.
Sem a maioria no Executivo, força da passagem de Nuno Moreno à condição de independente, e sem a maioria na Assembleia, graças aos votos dos presidententes de Junta, na sua maioria afetos ao PSD, poderiam estar criadas as condições que levassem a uma dramatização do cenário e a eleições antecipadas.
Que, longe de ser uma catástrofe, poderiam ser a oportunidade de recompor uma lista que se revelou adversa (por força da incompatibilidade entre si e Nuno Moreno) e, se calhar, até de ter mais algumas freguesias do seu lado.
Mas Isabel Ferreira tem um espírito prático, de resolução de problemas.
E rapidamente resolveu o problema da falta de maioria, captando a atenção de Ricardo Pinto, eleito vereador como número três da lista do PSD mas que entendeu apoiar o novo executivo, permitindo uma estabilidade governativa que estava ameaçada.
Ironicamente, este movimento até pode fazer o PSD suspirar de alívio, porque lhe retira o ónus de ter de deixar passar propostas sob pena de ser considerado uma força de bloqueio.
Assim, ontem foram levadas à primeira reunião de Câmara as novas competências, com a presidente a concentrar o grosso delas: Gabinete de Apoio e Relações Externas; Gabinete de Planeamento Estratégico e Auditoria Interna; Serviço Municipal de Proteção Civil; Departamento de Obras e Serviços Municipais: Divisão de Obras; Divisão de Logística e Mobilidade. Departamento de Intervenção Social: Divisão de Educação; Unidade de Desporto e Juventude. Divisão de Promoção Económica e Turismo.
Pedro Rego foi escolhido para vice-presidente, com a Divisão de Administração Financeira (a reunião mensal de pagamentos será sempre presidida pela Presidente da Câmara), com a Divisão de Cultura e com a sempre complicada pasta da Divisão de Urbanismo.
Sandra Rodrigues fica com o Médico Veterinário Municipal; a Divisão de Administração Geral e a Divisão de Ação Social e Saúde.
Por fim, Ricardo Pinto assume o Aeródromo Municipal; a Divisão de Informática e Sistemas Inteligentes, a Divisão de Águas e Saneamento e a Divisão de Sustentabilidade e Energia.
Reconfigurado o xadrez político, é tempo de deixar mãos à obra pois decisões importantes e críticas avizinham-se nos próximos dias... A começar pelo Museu da Língua.
