A opinião de ...

Cem dias é muito tempo

Passaram os primeiros cem dias, o número talismã na vida de qualquer governo.
Desta vez, ao contrário do que seria de esperar, a celebração dos primeiros cem dias do governo maioritário do PS passou sem as parangonas de outros tempos, e se não fossem algumas referências envergonhadas dos meios que lhe são mais próximos, esta efeméride, no interesse da estratégia do governo PS, teria sido ignorada mesmo pelos que nele votaram, até porque, bem vistas as coisas, nada de importante havia para comemorar quando, à medida que o tempo foi passando, o povo se foi apercebendo de que todas as grandes promessas e referências do passado recente não passavam de sonhos e quimeras desajustadas da nossa realidade, que rapidamente se foram esfumando até desaparecerem para sempre na voragem do tempo.
Culpa desta situação nada brilhante em que nos encontramos?
Obviamente que por cá, a culpa de tudo e mais alguma coisa, quando não é dos outros acaba por morrer solteira e, a continuar assim, um país pequeno como o nosso, será sempre um país pobre e sem um futuro digno à vista.
Porque nenhum país pode crescer sacrificando as carreiras técnicas e profissionais à vaidade saloia de investir tudo numa política errática de ensino para formar paletes de “Senhores Doutores de Sebenta” em áreas sem qualquer interesse para a economia do país, que, em grande parte, para ganhar uns trocados acaba por ir parar às caixas dos supermercados, a passear turistas nos “TUKTUkS” no eldorado turístico do Verão das grandes cidade ou, no limite, a continuar a viver eternamente à custa da sopa dos pais que, muitas vezes, para lhes darem o curso, tiveram de gastar o que tinham e o que não tinham, ou endividarem-se para o resto das suas vidas.
Num país pobre como o nosso, assoberbado pela necessidade de resolver uma série de problemas estruturais como o da enorme dívida externa, do crónico défice das contas públicas, da falta de pessoal no serviço de saúde e da educação, da falta de habitação condigna e de empregos minimamente estáveis, não se pode continuar à espera que se resolvam por decreto.
A título de exemplo, repare-se no que se passa na saúde.
Com todas as letras, é criminoso que se gatem milhões para formar médicos e enfermeiros para depois, sem fazer nada para que desse investimento público advenha qualquer retorno para o país, os deixar emigrar para países ricos, como a Alemanha e outros que, sem gastarem um cêntimo na sua formação, os recebem de braços abertos, enquanto por cá se malbaratam fortunas para pagar, a peso de oiro, as horas extraordinárias aos tarefeiros que ainda se vão mantendo por cá, a única maneira de ir mantendo a vergonha do serviço de urgência que o SNS disponibiliza a todos aqueles que, por qualquer azar ou fatalidade, especialmente nos fins de semana, sejam obrigados a recorrer aos hospitais.

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