Espinho vivo ou ameixeira brava?
O título alatinado da empresa de Montengro e família nuclear pode ter duas traduções: uma, popular, para «espinho vivo» e outra, erudita, para «ameixeira brava». A que me parece mais ajustada à personalidade do Primeiro-Ministro (PM) é a segunda, porque ele é indomado e, provavelmente, indomável, porque «selvagem».
O Governo tirou um coelho da cartola para ir a eleições na convicção de que lhe serão favoráveis. O «selvagem» passou uma rasteira ao «civilizado» Pedro Nuno Santos e este estatelou-se, numa primeira fase, definindo as regras do jogo mas entregando as «cartas» do mesmo a Montenegro. Tanta inocência e sinceridade não convêm a um líder. Hoje, 10 de Março, corrigiu, através da Comissão de Inquérito, e pode abster-se na votação da Moção de Confiança, amanhã.
«Pela boca, morre o peixe», disse um dia aos portugueses Mário Soares, e Pedro Nuno Santos caiu na artimanha do PSD. Incapaz de manter silêncio das suas estratégias, abriu o jogo, de risco em risco, até que o Governo o apanhou na rede. Os «zandingas» são-lhe favoráveis mas «prognósticos só no fim».
Luís Montenegro tem muito de que ter receio e medo. De facto, infringiu a Moral, a Ética Política e a Lei: a Moral porque mentiu, escondeu e iludiu; a Ética Política porque não assumiu perante os adversários e os portugueses, as suas prevaricações; a Lei porque, de facto, esteve a acumular funções públicas com negócios privados. Parece-me uma lei exagerada mas é a Lei e, num país onde se vive da hipocrisia das públicas virtudes e dos vícios privados, quando os vícios são descobertos, é um «ai, Jesus!» para quem é apanhado na malha. Mas os portugueses parecem gostar maioritariamente de quem assim vive à margem da Lei. Julgam-no herói e exemplo ao lutar contra o «papão» Estado do qual só gostam quando este lhes dá benefícios.
Se a moção de confiança for rejeitada, a estratégia do Governo sairá vencedora e perdedora. Vencedora porque colherá três vitórias; 1) haverá eleições, em princípio, embora não obrigatórias; 2), diminuirá a força de uma eventual Comissão de Inquérito que o PS queira propor; 3) ganhará tempo de informação face aos curtos dois meses que o PS terá para explicar-se aos eleitores. Será também perdedora porque, para salvar o PM, arrisca todo o Governo.
É assim a Política. Não é bonita, mas Jesus Cristo não proibiu nem o jogo, nem os negócios nem as artimanhas. Apenas os expulsou do Templo.
Até o enxerto de uma ameixeira brava (spinum) é um jogo. Pode sair uma bela árvore de fruto ou o enxerto secar. Às vezes, vale mais a pena fruir a beleza da flor de uma ameixeira brava do que enxertá-la. Veremos o que acontece com o enxerto que o PSD quer fazer em Montenegro. Pode dar certo, para mal da Moral e da Ética Política, mas estas são cristãs e procuram o bem de todos enquanto a acção política é pagã, republicana, conflituosa e procura satisfazer interesses, ou pessoais ou de grupo.