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O Natal e as eleições: a importância do recomeço

Os cristãos festejam o Natal como o nascimento de Jesus Cristo, a celebração da família e o início de uma ideologia religiosa que se chama Cristianismo. Uma ideologia que prega a união entre as pessoas e a vivência da vida segundo os valores da obediência às leis de Deus. Os cristãos iniciais fundaram assim uma filosofia de vida que acredita numa segunda vida, para além da morte física, reservada aos crentes e seguidores daquelas leis.
Porém, para muitos cristãos, o Natal é apenas uma oportunidade comercial, para uns, uma oportunidade de reencontro familiar, para outros, e uma oportunidade de acesso a bens não essenciais, para outros ainda.
As eleições em democracia assemelham-se ao Natal: são uma oportunidade de recomeço. Um recomeço com vários significantes conforme as filosofias políticas em escrutínio mas sempre recomeço à procura de poder de domínio sobre os outros. Foi assim que a democracia nasceu como alternativa à aristocracia reinante ainda nos finais do Século XVIII. Com o tempo, incapaz de organizar o processo decisório através de opiniões, instituiu o voto e o número de votos como método para eleger dirigentes e governantes. E, assim, expressamos as nossas opiniões mas o que decide são os votos, secretos e pessoais.
Existe pois uma diferença fundamental entre as eleições e o Natal. Este nunca muda bem como os dirigentes da Igreja e a filosofia desta. Baseia-se na imutabilidade do caminho para a salvação perante Deus. As eleições pressupõem uma disputa para saber quem detém o poder.
Coisa diferente é saber se os eleitos governam segundo as leis de Deus aplicáveis ao governo dos homens. Falo da Igreja Cristã Católica pois existem várias outras, umas mais próximas outras mais distantes daquela.
Para viverem em paz religiosa, os homens decidiram em 1648 que o Estado não devia seguir uma religião nem ser governado pelo poder religioso. O Reino Unido continuou com o Monarca a representar a religião mas actualmente como mero poder simbólico. Ali, na prática, o Estado também é laico.
Esta separação do Estado e da Igreja não significa que os governantes daquele não possam importar princípios essenciais da religião, bem pelo contrário. O Socialismo Utópico, o Estado Assistencial e o Estado Social são filhos directos da Doutrina Social da Igreja. As ONG (organizações não governamentais) e as instituições particulares de solidariedade social (IPSS) são filhas indirectas da filosofia da irmandade cristã, concretizando a ajuda aos mais necessitados, superando assim as leis da caridade casual.
Para um crente verdadeiramente cristão os governos devem ter esta componente de Estado Social. No entanto, devem agir segundo o princípio da proporcionalidade e da orientação para a autonomia do ajudado. A ajuda pela ajuda conduz à dependência e à alienação da iniciativa individual. Como escreveu o Papa Francisco, «todos somos iguais em direitos e deveres». Logo, o ajudado também deve estar disponível para a reintegração e para a colaboração na vida social que a ajuda deve libertar.
O NATAL une-nos a todos. Feliz Natal!

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