A opinião de ...

O valor das crises: oportunidade para mudar

O país vive, desde 30 de Junho de 2022, quando se soube do atrevimento de Pedro Nuno Santos em decidir o local do NAEL (Novo Aeroporto de Lisboa), uma crise política, a somar-se às imensas crises económica, social e geo-estratégica, esta em consequência da invasão da Rússia pela Ucrânia.
Tal crise política consistiu no excesso de linguagem e de comentário do Presidente da República (PR) com instabilização constante do Governo através do abuso da ameaça de dissolução da Assembleia da República. Consistiu ainda na perda de liderança do Primeiro-Ministro (PM) em relação ao Governo, transformado em locus de reprodução e de manifestação das várias tabernas do Partido Socialista. Incapaz de colocar ordem e orientação nos governantes, o PM foi-se anulando até à incapacidade de demitir João Galamba, no dia 1 de Maio de 2023, provando sua a total incapacidade para dirigir o Governo e os desmandos dos aventureiros que não têm a noção ética do que é ter uma maioria absoluta. Mas, como uma desgraça nunca vem só, eis que o Presidente da Assembleia da República se juntou à «barraca» desprestigiando o órgão e o cargo através de atitudes e palavras indignas de um verdadeiro magistrado da República.
O PR, face às críticas de que foi sendo alvo, reviu as suas atitudes e as suas palavras e, face às fragilidades do Governo e do PM deste, decidiu tomar as rédeas do país, mudando, de facto, o seu estatuto de Presidente Comentador para o de Presidente Orientador e Interventor, comunicando tal mudança aos portugueses no dia 3 de Maio passado, na sequência do não pedido de demissão do Ministro João Galamba e da recusa do PM em exonerá-lo. Na minha opinião, Marcelo foi magistral, não receando ser visto como contraditório consigo mesmo, antes pensando no país, nos portugueses e no futuro destes já que eleições legislativas, nesta altura, estariam condenadas ao insucesso na mudança de políticas.
Assim, o Presidente Marcelo assumiu o poder-dever de tutela do Governo remetendo o PM para o estatuto de figura menor no processo de orientação e de decisão política. É tudo o que o Presidente-Rei não gostaria de fazer, mas também aqui o fez para ajuda e salvação do país perante um Governo demasiado jovem e com muito pouca orientação estratégica, cultural e política.
Esta crise – que o Presidente já resolveu desta forma - tem um grande valor pedagógico e educativo. Gostei de ver o Presidente a equacionar todos os cenários e a explicar aos portugueses os fundamentos da reflexão para atuação futura. É certo que declarou implicitamente a morte do Governo, mais cedo ou mais tarde, mas, antes assim porque o Governo era – e é – um museu vivo, quase transformado em fóssil por luta auto-fágica entre facções do Poder.
Falta agora re-educar o Presidente da Assembleia da República de modo a que ele cumpra as nobres funções para que foi eleito com dignidade de Estado e não como militar de facção. Será que tem de intervir também Marcelo? Ou as palavras avisadas de Carlos César, Vitalino Canas, Vieira da Silva e outros são suficientes?

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