A opinião de ...

Da essência do Natal

O Natal faz-nos voltar o olhar para o Céu para aprender um pouco mais e melhor a aconchegar O Menino, como se faz com um filho.
Este pode ser, no itinerário que cada um de nós faz de descoberta do significado mais profundo e essencial da própria celebração do nascimento de Jesus, aquele que é mais consequente e até coerente.
Por isso, não é de estranhar que, como um dos acontecimentos maiores da fé cristã além de fonte e fundamento da esperança da própria humanidade, tenha despertado e suscitado, ao longo da História, em tantas pessoas, sob sua inspiração, a promoção do amor, da solidariedade e da fraternidade.
É o caso de S. Sérvulo, que se evoca no dia 23 de dezembro e cuja história de vida é curta mas muito tocante.
Diz a Biografia dos Santos, citando o escrito pelo Papa São Gregório Magno, no séc. VI, que São Sérvulo, era paralítico desde a infância e que pela sua mãe e irmão era levado para a porta da Basílica de São Clemente, em Roma.
Aqui, ia pedindo a esmola a quem entrava, que pelos vistos eram bastante parcas e não o conseguiam fazer escapar de passar fome.
Contudo, e este é um dos elementos mais curiosos, Sérvulo ia juntando para si apenas o suficiente para comprar uma Bíblia para depois pedir para lhe lerem diferentes partes da Sagrada Escritura que apreciava. Ao mesmo tempo e apenas com uma das mãos, usando-a para pedir igualmente a usava para dar, distribuindo o que ganhava entre os outros pobres e peregrinos.
Numa noite de Natal, Sérvulo não foi encontrado no átrio da Igreja como habitualmente. Tinha falecido nos braços da mãe, na sua mísera habitação.
Nessa noite de Natal o Papa Gregório centrou precisamente a sua homilia na figura de um santo desconhecido, esse mendigo anónimo que ficava à porta da Igreja de São Clemente e que repartia o que tinha pelos outros pobres, com paz e alegria no rosto.
Hodiernamente, na citada Basílica de São Clemente ainda se encontra uma pintura alusiva a Sérvulo com pobres e peregrinos a ladearem-no, aos quais aparece a dar-lhe esmolas e a lerem-lhe a Bíblia.
Esta é, entre tantas outras, mais uma passagem biográfica de gente simples e anónima que faz da solidariedade e da bondade o seu rumo existencial.
Esta história pode ser a descrição dos traços da essência do Natal, do espírito e alegria natalícia que desperta em cada pessoa, quando esta toma consciência do mais recôndito do seu ser, a capacidade de ter gestos de generosa fraternidade, sendo por isso, expressão de um quotidiano Natal.
É a essência como a encontramos nas palavras do Cardeal Tolentino, “No princípio... era a relação”. Que sejamos eco deste princípio.
Santo Natal e feliz Ano Novo.

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3966

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