A opinião de ...

007 Licença para Salvar

No auditório do Centro de Investigação Médica da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto o médico ortopedista António Francisco Martingo Serdoura apresentou um dos projetos do laboratório colaborativo 4LifeLab a que preside e que, no centro de pesquisa da Escola de Medicina portuense lidera uma Zona Livre Tecnológica (ZLT) que recebeu o número 007 e que, no entendimento dos investigadores, lhes confere uma maior responsabilidade para se diferençarem, positivamente, das demais.
Obviamente que não é o nome que vai definir o destino desta unidade, mas não deixa de ser curioso estabelecer alguns paralelos com a saga do agente secreto criado por Ian Fleming. O mais famoso agente ao serviço de sua Majestade foi celebrizado pelos seus feitos em defesa do bem e incansável combate ao mal, sem esquecer a ética e os princípios embora, muitas vezes, a sua atuação ultrapassasse, na sua interpretação mais restrita, as regras e as leis estabelecidas, bem como as orientações recebidas do MI-6.
Ora, as ZLT, assumindo igualmente um combate sem fronteiras em defesa do bem-estar e da saúde dos cidadãos, combatendo doenças, epidemias e lesões provocadas por acidentes e outros, têm o seu campo de atuação em ambientes com uma forte redução da barreira regulatória (operando numa espécie de ilegalidade legal, parafraseando Guy Villax, presidente do Health Cluster Portugal) e com acesso a grupos de utilizadores específicos, necessitando, para isso, de uma avaliação constante e imediata do risco, do impacto, bem como do sucesso e do fracasso.
A maior diferença é que enquanto o James Bond, persegue os seus objetivos, matando, a torto e a direito, os agentes do mal, as ZLT empenham-se em obter resultados promovendo a saúde e salvando vidas. Além disso, a sua grande utilidade para trabalhar e testar sistemas complexos em ambientes desafiantes, permitindo a replicação, em ambientes reais, testes e soluções já executados e avaliados em situações simuladas, vão encorajar o investimento e a inovação, como ficou provado, recentemente, com a conhecida saga das vacinas para a Covid19.
Esta redução, à medida e sob rigoroso controlo de todas as entidades reguladoras envolvidas assume particular importância na facilitação (em segurança) na investigação na área da saúde, mormente na translação das novas tecnologias para a prática clínica em cujo processo existem, não um, mas dois “vales da morte”, devidos, precisamente às barreiras regulatórias para a entrada no mercado de novos fármacos e tecnologias inovadoras, sem prescindir da necessidade de testar intensivamente produtos, conceitos e serviços, antes da sua comercialização.
Uma das áreas, em inovação na área de saúde, é a utilização de drones que por isso mesmo, na classificação das áreas de investigação se autonomizou, separando-se da área dos transportes.
Em concreto, a ZLT 007 em Mobilidade de Emergência Médica tem o seu foco no encurtamento dos tempos de resposta em situações de emergência. Pretende definir um HUB de mobilidade de urgência médica capacitando-o com as melhores soluções para o transporte de doentes e no acesso a novas soluções. Uma das vertentes em investigação é o uso de drones para a entrega de medicamentos, órgãos e outras atividades, com o intuito de encurtar, drasticamente, os tempos de resposta. É óbvia a sua utilidade em ambientes de catástrofes e, especialmente, em acidentes em regiões remotas. Daí o maior interesse que estes desenvolvimentos podem despertar, na nossa região!

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