A opinião de ...

Assinar de Cruz

Eu seria incapaz de colocar o meu nome por baixo de um texto, intitulando-me autor de algo que não tivesse escrito. Não é esse, infelizmente, o entendimento de outros, principalmente alguns autarcas que, convencidos da importância de terem de dizer algo de substancial, sempre que uma obra literária leva a chancela camarária, não resistem ao impulso de novo-riquismo intelectual, parolo e pouco inteligente e, desconsiderando-se sobretudo, a si próprios, colocam o seu nome por baixo do que outros, a seu pedido, conceberam e escreveram.
É a Relvização política.
Atitude que, para além de condenável, é confrangedora sobretudo quando nem se dão ao trabalho de ler e entender o que acabam de subscrever que pode nem sequer estar alinhado com o que verdadeiramente pensam. Nestes casos é maior a vergonha alheia de quem, gostando muito do seu concelho tem de assistir à caricata situação de ver o Presidente de Câmara a advogar, publicamente, o contrário do que subscreveu, pouco tempo antes.

Também não é nada agradável ver numa publicação oficial uma comunicação do autarca da nossa terra intitulando-se em representação de outra, mesmo que próxima. Tratou-se de um erro. Claro que sim. Toda a gente percebeu.

Mais importante que remeter os pedidos de esclarecimentos e as candidaturas a uma Câmara do nordeste, para outra da Beira Alta foi o anúncio de 14 (catorze!) lugares no quadro da autarquia, garantia-me, recentemente alguém muito próximo da campanha do Presidente recandidato. Essa vai ser a chave para ganhar, de novo as eleições, afirmava o seu colaborador.
Numa primeira análise parecem ser situações lamentáveis mas sem demasiada importância.
Contudo, refletindo um pouco, facilmente se encontra, num segundo plano, matéria de grande gravidade.

Os catorze lugares, em si, não são propriamente o pior dos males (“todos fazem o mesmo” comentava o solícito assessor). O mal está em eleger a promessa de emprego como o principal trunfo para a disputa eleitoral. Então, depois de oito anos aos comandos da autarquia, não há nada mais relevante para brandir?

Subscrever um texto alheio, sem o ler, sendo criticável não é, em si, um delito de lesa-pátria. Sobretudo se for uma nota introdutória. Mas se, pelo contrário, for num documento oficial, enviado para publicação no Diário da República, é assustador! Haverá quem, tendo a faculdade e a competência para comprometer toda uma autarquia, com a sua assinatura, coloque o seu nome num documente, sem o ler? Sim, porque, mesmo sendo notoriamente um erro de corta e cose, muito frequente com os processadores de texto, redigido por um colaborador, não me passa pela cabeça que, lendo-o, o Presidente não reparasse que a Câmara referida no texto, não era a sua...

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3845

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