Quo Vadis?
E pronto.
Estamos, de novo, convocados para, em eleições antecipadas, nos pronunciarmos sobre a solução governativa que, resultar da nova composição da Assembleia da República, sem se saber bem como e porquê.
Curiosamente o gatilho que despoletou a situação instável que, numa reação em cadeia, redundou na demissão do atual executivo, começou com a já famosa Lei dos Solos, que, em concreto, apresentou, finalmente, um contributo sério para dar um primeiro e significativo passo com vista a resolver, ou pelo menos atenuar, o grave problema da habitação em Portugal. E foi o que se viu. Apesar de, excetuando alguns extremismos, ter despertado um consenso geral, quer na sua formulação quer na fundada expetativa sobre a real eficácia, quando implementada, de repente levantou uma sequência de acontecimentos que, cumulativamente, desencadeou um autêntico terramoto político. Estranhamente, pelo que veio a público, ainda nenhum crime ou ilegalidade foi detetada ou sequer apontada pelas diferentes forças partidárias e, mesmo assim, este movimento, cavalgado pelas principais forças da oposição, começando pela queda de um Secretário de Estado, varreu o governo todo, com “descobertas” de patrimónios considerados tóxicos, acabando com acusações, ou melhor, insinuações, apontadas ao Primeiro-Ministro e, por consequência à liderança do Executivo, arrastando-o para a sua queda e convocação de eleições legislativas antecipadas. Mas, insisto, não foi dado a conhecer nenhum delito nem enunciada nenhuma norma jurídica concreta que tenha sido violada.
Será, portanto, uma questão política.
Legítima.
É disso que se trata, na Assembleia. Os vários dirigentes (todos, sem exceção), jurando querer a todo o custo evitar eleições, entenderam (ao contrário do que aconteceu no final do verão) ser oportuno “devolver a voz ao povo” esperando obter ganhos eleitorais.
O que não deve ser dado como adquirido.
O governo quer surfar a onda de ter satisfeito as principais reivindicações salariais de vários setores, desde os professores, aos polícias e oficiais de justiça e aproveitar o bom desempenho económico. Porém a saúde (e a habitação) continuam sem solução à vista. É, aliás, nestes dois setores que o PS quer apostar para expor o Governo pela incapacidade de resolução… porém, nestas áreas, os governos anteriores não têm créditos para exibir. O Chega, acha que chegou a hora de se libertar de uma bancada cujo tamanho é inversamente proporcional à qualidade e, pior, peca precisamente nos aspetos que escolheu como bandeira eleitoral. Vai chamar a atenção para a celeridade no afastamento de quantos infringem a apregoada e badalada ética exigida para os políticos. Porém, e isso não é de somenos, foi pela mão de Ventura que se instalaram na Casa da Democracia de onde não é fácil expulsá-los como recentemente o demonstrou o deputado açoreano. Estando esta formação política sustentada num único homem, como está sobejamente demonstrada na prática recente, que garantias podem os eleitores ter de que a nova composição das listas vai obedecer a um critério com um qualquer rigor adicional?
Chagámos pois a uma encruzilhada sem qualquer roteiro nem indicações seguras dos destinos a que nos irão conduzir as várias vias que aqui se encontram e que é necessário escolher.