A opinião de ...

O pedreiro e a parede

Não há muito tempo, contratei um pedreiro, que se tinha como mestre, para reparar uma parede. Ao ir derrubando a parte que se encontrava pior, mais e mais ficava admirado com o que via. Para ele aquela parede tinha sido feita por um marreta. E não se cansava de desfazer dele que – dizia – tinha muito que aprender para exercer aquele ofício.
Eu, como de fazer paredes, confesso que não sei nada, à medida que o pedreiro se admirava e lamentava com o que via, também eu lhe fui perguntando como é que ele podia ter a certeza de que aquela parede tinha sido feita por um marreta, ao mesmo tempo que me fazia ver os defeitos que ia encontrando; e que tinha a certeza de que quem fez aquela “linda” obra não utilizou ou não soube utilizar, por exemplo, o prumo, e que, se calhar, nem sabia o que é um prumo.
- Ora veja bem por este lado! – não há aqui uma pequena inclinação? Pois foi mesmo por aqui que a parede começou a dar de si.
Na verdade, nunca me tinha apercebido desse pequeno defeito. Parou um pouco e olhou fixamente para admirar a forma como fora construída:
- Agora, olhe pra aqui, se faz favor. Este ignorante nem sequer se deu ao trabalho de escolher a pedra! Não é que começou por colocar em baixo a pedra miúda, e foi em cima desta pedra que colocou as maiores?
Eu, cada vez mais atento, fui ouvindo, não só as admirações do mestre pedreiro, como ia visualizando os esgares que fazia a cada admiração.
- Com toda a certeza que foi um principiante a fazer semelhante trabalho! Um profissional que se preze não faz asneiras destas!
E não se cansava de desdizer do que via. Ao fim de uma hora, se tanto, em que o trabalho pouco andou, já limpava o suor que lhe escorria da testa, de tão incomodado que se encontrava, enquanto dava a perceber que, assim, nem tinha vontade de continuar. Pelos vistos, se toda a parede sofria da mesma doença, achava que teria de ser deitada abaixo e fazê-la, de novo.
Aí, senti-me no dever de intervir, pois não encontrava motivo para uma solução tão radical! Havia vários anos que a parede se mantinha em pé, e só uns dias atrás começara a acusar ruína, precisamente no lugar em que o mestre pedreiro se encontrava a trabalhar! Tanto mais que, para mim, tal decisão iria acarretar, não só um rombo no orçamento familiar, como também muito tempo para acabar aquela, como que praticamente imprevista obra.
Foi então que tomei a decisão de dispensar o mestre e procurar encontrar outro pedreiro que não fosse tão “mestre” que, decerto, iria fazer bem e depressa aquele trabalho. Através dum amigo, contactei outro profissional que, sem reparos – e mais barato – numa semana, deixou-me a obra pronta.
Concluindo, esta atitude do mestre pedreiro levou-me a pensar em pessoas egoístas e desonestas, por um lado; e em pessoas altruístas e honestas, por outro.
Na verdade, se há pessoas que, não se cansando de dizer mal dos outros e do seu trabalho, reservam para si o que de melhor podem aproveitar das consequências da sua maledicência, há também outras pessoas que, sem criticarem o trabalho alheio, se limitam a oferecer, de boa vontade, os seus préstimos aos que os rodeiam.
Decerto que este exemplo nos levaria muito mais longe! Mas, por agora, creio que basta!

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