A opinião de ...

Opinião!... Da fogueira ao campanário!...

Quando a primavera floresce, o tempo de Páscoa aparece, despertando, com mais intensidade, o brilho do sol, a alegria e a renovada energia.
Para mim, a Páscoa foi e é simbologia de festa da renovação e da vida. Por isso, jamais esquecerei as vivências pascais, sobretudo dos meus tempos de criança, adolescência e juventude. Tudo recordado com fortes laços de identidade com as origens, a família nuclear, a minha aldeia e aqueles, mais ou menos da minha idade, que partilhavam comigo as atividades inerentes ao grupo da local mocidade. Os tempos eram outros. Nem sequer havia energia elétrica, nem televisão!... As noites eram escuras e as ruas, de inverno um lamaçal e, de verão, poeira infernal. Vida dura, o que tornava os jovens gente resistente e madura.
Para além de muitas outras ao longo do ano, no tempo pascal, a rapaziada vivenciava as suas lúdicas e culturais atividades tradicionais. Com efeito, ultrapassado que estava o período do cumprimento da tradição pagã, pelo meio da quaresma, a “Serra das Velhas”, cumpridos os deveres da Fé e aproximando-se o Sábado de Aleluia, Santo, a juventude preparava, com refinado afinco, a forma como deveria arranjar lenha para a tradicional fogueira, que deveria arder a noite inteira. Claro que a fogueira da noite de Páscoa, deveria arregimentar, não só o maior número de rapazes para a sua realização, mas também lenha à fartura, preferencialmente roubada, dos “sequeiros”, com particular interesse, se estes estivessem nos quintais dos proprietários que se mostrassem mais severos e interesseiros. Obviamente, transportada no carro de bois que tivesse o “chiar/cantar” mais afinado, temporariamente ao lavrador mais autoritário e menos sociável, roubado. Carro de bois esse, preferencialmente em bom estado, pela rapaziada puxado e muito bem carregado.
O adro da Igreja era o local escolhido. Antes da meia-noite, já a fogueira, com fortes chamas, iluminava o espaço envolvente e tirava o frio a toda a gente presente. Mas, o trabalho ainda não estava terminado, era necessário enfeitar o campanário. Pela escada de madeira, já meio apodrecida, para o campanário não havia medo da subida. E o adornamento acontecia.
Perto da meia-noite, olhos nos relógios, que poucos tinham, os preparativos para se dar início ao repicar dos sinos. Habitualmente os rapazes não falhavam. Sendo certo que, às vezes, quando os de Frieira começavam, já os de Sanceriz, Macedo do Mato, ou Bagueixe, tocavam. Mas isso, problema algum constituía, porque, a rapaziada, revezadamente, ao campanário subia e descia, para tocar os sinos até surgir o novo dia. Anunciando a Ressurreição, com muita entrega e devoção.
Antes da Celebração Eucarística, os populares lá passavam e se aqueciam na fogueira, sempre a reparar se a “bolha” que lhe haviam roubado já tinha ardido, ou ainda estava inteira, aceitando, pacificamente, a brincadeira, em Frieira!...
O tocar dos sinos, na Páscoa, reflete a vivência festiva, potenciando a alegria da Ressurreição que anuncia. Com muitas histórias para contar, neste contexto vividas, retidas no meu imaginário, não vou esquecer as celebres subidas da fogueira ao campanário.

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3569

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