A voz e a Palavra
“As minhas ovelhas escutam a minha voz: Eu conheço-as e elas seguem-me” (Jo 10, 27), dizes-nos, Jesus.
Como é poderosa a voz humana! Na passagem dos rebanhos pela madrugada, de entre os tais ruídos de chocalhos e balidos, distinguem-se uns vocábulos humanos, com modulações diversas, que parecendo incoerentes, se transformam em movimento e disciplina. O timbre da voz, a entoação, o ritmo e a duração fazem-se música para passos que dançam percursos, sob a batuta de um cajado. A voz tem na sua composição recursos com que se fazem caminhos. Ela é um veículo privilegiado da palavra.
Jesus, afirmas que as tuas ovelhas “não ouvirão a voz dos estranhos” (Jo 10, 5). Tens a certeza? À volta dos apriscos há perigos que rondam, há feras e ladrões. Das feras temos medo e protegemo-nos, mas às vozes enganosas dos sedutores pode-nos ser difícil perceber a astúcia. Bem sabes que há musicalidades tóxicas que nos desafinam o interior e nos desarrumam a polifonia. Precisamos da verdade com que aquele arauto, D. Nuno Almeida, se nos apresenta “como alguém que tem encanto pelo Evangelho como Palavra para viver pessoal e comunitariamente.”
A voz, quando habitada pela Palavra, faz-se criadora! É como se nos dissesse: “Confio-vos a Deus e à palavra da sua graça (Act 20, 32).
Como ovelhas que acordam e se levantam para a peregrinação, nesta palavra queremos modelar os nossos caminhos, os nossos passos, os nossos percursos.
Tu nos dizes, Jesus, que o Pastor “chama as suas ovelhas uma a uma pelos seus nomes e fá-las sair!”. (Jo 10, 3b) Aos olhos de um estranho as ovelhas passam como clones, sem diferenciação. Mas o pastor reconhece-as ao mínimo sinal. Todas têm um nome, uma história, um modo de completar o rebanho.
Temos a alegria de ouvir D. Nuno dizer-nos “procurarei fazer-me próximo de todos”, ou seja localizar o mapa dos rostos, saborear cada nome, navegar em cada história, contrair cada “cheiro”, para “desta vida nova - o Evangelho - dar testemunho, enquanto Deus me der forças e saúde. Sempre e em toda a parte.”
Reconhecemos esta voz, habitada pela palavra que vem d’Aquele que diz: “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me.” (Jo 10, 14) Sim, conhecemos!
Como rebanho que reconhece a voz e a ela reage, a resposta terá de ser um seguimento: “as ovelhas seguem-no, porque reconhecem a sua voz. (Jo 10, 4). Sim, D. Nuno, reconhecemos a sua voz, estamos prontos! Segui-lo-emos, porque queremos seguir Jesus.
Ir. Maria José Oliveira, sfrjs