A opinião de ...

Belicismo

Delenda est Cartago (é preciso destruir Cartago) - a célebre frase de Catão, o Velho, que terminou a sua vida pública como “censor” (o grau mais elevado da hierarquia política romana (234 – 149 a.C). Catão defendia o aniquilamento da florescente cidade-estado Cartago, destruída no final da terceira guerra púnica. A rivalidade entre Roma e Cartago, como bem recordamos, derivava do desejo de dominar o Mediterrâneo. O poder, sempre o poder.
Ocorreu-me esta frase pela simples (ou complexa?) razão de a natureza humana se deixar dominar por duas forças: violência e loucura. Bem gostaria de defender que o homem é naturalmente pacífico. Mas ensina-me a História, sobretudo a História Militar, que estou profunda e utopicamente enganado. Ao longo dos séculos, o pensamento ideal de uma sociedade pacífica, vivendo e convivendo os homens em harmonia, deu lugar ao império da força e à força do império. Assim, foram surgindo a guerras na longo dos séculos. Quer dizer: o homem (não consigo escrever com letra maiúscula) prosseguiu o seu instinto predatório, de conquista, de poder. Se repassarmos os olhos, encontramos, sem qualquer preocupação cronológica, as invasões bárbaras, as cruzadas, o esclavagismo, as diversas guerras europeias, o ataque e o saque de territórios fora deste continente, as desavenças entre os reinos africanos e asiáticos, as grandes guerras do século XX, as lutas dos imperialismos. Ou seja, um desfile ininterrupto de conflitos. Vide o que escreveu, de forma lúcida, Martin Gilbert – um grande historiador – no volume I da sua História do Século XX (D. Quixote, 2013; Expresso): «O século XX começou, e terminou, com guerras em curso neste ou naquele ponto do globo, com tropas em combate mortal, e com a notícia quotidiana de mortos e feridos nos jornais». Acrescento: as guerras continuam.
O poder pelo domínio económico, ou territorial, ou religioso, demonstra que o homem se socorre da violência para se impor a outro homem, no pressuposto de que existe superioridade de um em relação a outro, de um povo em relação a outro, de uma nação em relação a outra.
Habitualmente, há a intervenção da loucura – o fundamento, individualizado ou referido a elites – na existência de guerras (Frei Bento Domingues). A este título, recorde-se, por exemplo, os encontros dos ministros dos negócios estrangeiros alemão e italiano, com a presença do comissário da Sociedade das Nações (atual ONU), em Salzburgo, que antecederam a II Guerra Mundial. É que amadurecia na mente de Hitler a ideia de conquista, qual era a de um mundo aos pés da “sua” Alemanha. A loucura, caros leitores.
Violência e loucura – eis o que reside por trás desta guerra que agora acontece à nossa porta. Esquecem-se os homens – os poderosos – de que a via do diálogo e da negociação são os valores que suportam, ou deveriam suportar, as relações entre os homens. Estamos a esquecer-nos dos horrores da destruição em massa. Estamos a esquecer-nos, como resgatava Rousseau, que o conceito de soberania interna, aliado ao direito internacional, é condição sine qua non para a paz externa.

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