Anticlericalismo e o medo de decidir
O Anticlericalismo [A.] ergueu-se perante uma Igreja Católica inativa, ineficaz, que deixava decair a sua válida “proposta de vida e, que perdia o sabor a Evangelho”.
O A. impôs-se, genericamente, porque a Igreja fechou os olhos, os ouvidos e, deixou de sentir as pessoas [“Igreja terrestre”]. Abstraiu-se do mundo, fixou-se exclusivamente na etérea liturgia [Igreja celeste], favorecendo o ritualismo misseiro, que mais do que santificar, permitiu que “o diabo entrasse pelo bolso do clero”. A mística desencarnou-se, deixando de prestar atenção às questões sociais mais prementes [os deserdados do mundo].
Há 130 anos era assim, antes de Leão XIII e da “Rerum Novarum” [15/05/1891] e, pode continuar a ser assim, se nos alhearmos e, abstrairmos… Na altura o clero aburguesou-se e, decaiu moralmente. Favoreceu-se o culto ritualístico desligado da cultura. Celebrava-se a missa em latim, de costas para o povo e, ironicamente insistia-se em “ouvir missa inteira, nos domingos e festas de guarda”. Ouvir ouviam, mas entender? Desligados os fios da comunicação, da imagem, entre o presidente e, os restantes fieis, só restava uma assembleia ouvinte, mas pouco esclarecida e, menos celebrativa. A Igreja exigia pouco da formação do clero, conduzida por alguma hierarquia medíocre, a quem importava mais ter um “cura de aldeia, que cante, que leia”, que preencha as vagas, no mapa da geografia diocesana, do que padres formados e esclarecidos, que poderiam tornar-se contestatários. O importante era favorecer uma Igreja piramidal, do agrado dos “alpinistas”, soberbamente feudalizada.
Uma Igreja assim, formada por fiéis desconhecedores dos seus efetivos compromissos sociais, à margem dos deveres e direitos, que não aposta na formação doutrinal, bíblica, teológica, moral, só lhe resta ficar à mercê da prepotência irónica, da prosápia, da sobranceria, da verrina, de uma inteligência laicista e A.
Mas, há quem persista em fazer passar o são humor, transformador das realidades, por A. e, “nem tudo se pode medir pelo mesmo raseiro”, por vezes, há autênticas bombas anticlericais e, essas nem nos apercebemos delas.
Á frente relato um episódio, se bem contado, melhor observado, de um leigo que retrata o seu pároco, a realidade paroquial que assiste e, que já foi motivo de citação, em tertúlias e, ações de formação para o clero. Bem, se Guerra Junqueiro por cá andasse, não desprezava certamente esta “bucha”, a que apressada e, erroneamente, alguns zelosos devotos correriam a apodar de espírito A.
«Agora há poucos párricos e, tem muitas freguesias. O nosso vem de fora, quando vem, reza sempre missas aos molhos, no fim arrebanha o manhuço das notas, levanta a saia, mete-as ao bolso e, ala que se fai tarde».
Mas, tão, ou mais, perigoso e prejudicial, num futuro imediato, é o desinteresse, a negligência, o deixa andar, o tanto se me dá desde que no final o serviço se faça, ou o medo de ter de tomar decisões para não macular a imagem, o não ter qualquer exigência no acesso aos sacramentos, o não prover à salvaguarda do património eclesiástico, tudo isto mostra desleixo e, mais tarde, ou mais cedo, isto sim redundará em igrejas vazias, mentalidades fortemente laicizadas e, anticlericais.