A casa do Abade de Baçal já é do Município
«Não faz sentido investir dinheiro público numa casa privada». Com estas palavras, o Eng. Jorge Nunes, Presidente da Câmara de Bragança [1998 a 2013], defendia assim, perante os jornalistas, o porquê de não se investir na casa do Abade Baçal [9-4-1865/ 13-11-1947].
Saúdo e homenageio a Doutora Isabel Ferreira, recém-eleita Presidente do Município, com o presente artigo. Entendo os seus inúmeros afazeres, só para se inteirar de todos os dossiês, rogo-lhe que entenda também a celeridade desta nota. Oportunamente, assinale por favor, este edifício como candidato a recuperação. Saúdo também quem tratou do recentíssimo processo [At.º 432, Urbano, 2025] de aquisição, que está ainda em fase de tratamento na Divisão do Património, mas já é do Município e, como tal, é domínio público. É urgente escorar-lhe os muros, enquanto se candidata à recuperação, para não ter de os levantar integralmente do chão!
Esta casa enquadra-se na tipologia de arquitetura rural, popular e regional, que quase já não existem outras. Cada habitação que se desmorona, é por isso um valiosíssimo património que desaparece e, com ele encerram-se preciosas lições. Estes edifícios fornecem um manancial de fontes preciosas para o estudo da génese arquitetónica, correlacionadas com a geografia, o clima, a economia, a sociedade, como refere o estudo da Arquitetura Popular em Portugal, do Sindicato Nacional dos Arquitetos. Só por isto já valia a pena recuperá-la!
A Casa do Sr. Abade é uma estrutura de alvenaria de xisto, rebocada e pintada de branco, com caixilharia e portas de madeira e, cobertura de telha. A par desta marca de distinção, no seu “claustro interior” [varanda romana], é decorado com apontamentos epigráficos sobre a cal, onde o Sr. Abade apontava as visitas ilustres que recebia em Baçal, tais como: Leite de Vasconcelos, Teixeira Lopes, Abel Salazar, Paulo Quintela, Jorge Dias e Egas Moniz.
Se esta casa não for recuperada perde-se uma das fortes ligações a um dos mais ilustres transmontanos dos séculos XIX e XX e, com esta desaparece uma fonte de oportunidade para o Turismo. Em 2011 o Presidente da Junta de Baçal, João Alves, ao inaugurar uma escultura urbana em homenagem ao Pe. Francisco Manuel Alves dizia: «há muita gente que vem aqui a Baçal e encontrava um vazio, não encontrava aqui nada que tivesse a ver com o Abade».
A página “web” do Turismo de Portugal diz que os escritores são pessoas especiais, inspiradas pelos sítios onde moram. Por isso as suas casas dão-nos mais informação sobre o modo como viveram, onde escreviam e como trabalharam e muitas vezes essas moradias surpreendem-nos pela simplicidade, situadas em cenários idílicos, como se a paisagem fosse suficiente para alimentar o génio criativo. Ao visitá-las ficamos a conhecer um pouco mais da alma portuguesa.
Por tudo isto é urgente recuperar a casa do génio da nossa arqueologia, da etnografia, da história de Trás-os-Montes, sobretudo da região de Bragança! O Sr. Abade nada fica a dever a Torga, a Eça, a Camilo, a Pessoa, a Régio, cada qual no seu âmbito, personagens de quem se conservam ainda as suas habitações como memoriais de visita obrigatória.
