Originalidade Atributo dos Santos
A devoção a Santa Rita de Cássia levou, há dias, um amigo a sugerir-me escrever sobre a santidade e, a vida dos santos. A ele, e a todos, convido vivamente a ler a Exortação Apostólica, “Gaudete Exsultate” [GE], do Papa Francisco, de 19 de março de 2018.
Para Miguel Unamuno “ler muito é um dos caminhos para a originalidade, uma pessoa é tão mais original e peculiar quanto mais conhecer o que disseram os outros”. A originalidade é atributo dos santos, que não lhe advém apenas da leitura, mas da vivência do Batismo, do confronto com a Palavra de Deus, da participação na Eucaristia e, da entrega generosa e voluntária ao serviço dos outros. O Beato Carlo Acutis temia que se esquece-se a originalidade primordial que nos carateriza e, o que a ajuda a manter viva [Eucaristia e serviço], por isso recordava: “todos nascemos originais, mas muitos de nós morremos como fotocópias”.
A devoção aos santos é algo muito arreigado na cultura popular, mas para lá da admiração, e da intercessão, que os santos nos comocionam, a santidade é um desafio a abraçar e, a seguir diariamente pelo caminho do Evangelho. O cristão, o vocacionado à santidade, nada fazendo de extraordinário, é chamado a fazer extraordinariamente bem as coisas ordinárias, como pedia São Vicente de Paulo.
Um dia um jovem admirou-se por perguntar, ao grupo onde ele estava inserido, “e vós também quereis ser santos?”
Resposta imediata:
- “Credo, Sr. Padre, ainda somos muito novos”!
Retorqui de imediato:
- Não vê que a santidade é o apelo a vivermos a felicidade, que nos vem pelo Batismo, e é para todos, crianças, jovens, adultos e, não só idosos!
O Pontífice máximo apresenta o imperativo de viver a santidade, encarnada no contexto atual, com os seus riscos, desafios e, oportunidades, desmistificando-a e, retirando-lhe a carga negativa que a envolve. “Ser santo não significa revirar os olhos num suposto êxtase” [GE, 2, 96]. “Não tenhas medo da santidade, não te tirará forças, nem vida, nem alegria, muito pelo contrário, chegarás a ser o que o Pai pensou quando te criou e serás fiel ao teu próprio ser [GE, 32].
Para o sucessor de São Pedro a “santidade é o rosto mais belo da Igreja e, mesmo fora da Igreja Católica há testemunhos da sua presença, nomeadamente através dos mártires [património comum de católicos, ortodoxos, anglicanos e, protestantes], eles são «uma herança que fala com uma voz mais alta do que os fatores de divisão», como defendeu São João Paulo II no Jubileu do ano 2000 [GE, 9].
Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. És uma consagrada, ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegria a tua doação. Estás casado? Sê santo, amando e, cuidando do teu marido, ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador? Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho ao serviço dos irmãos. És progenitor, avó, ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus. Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais [GE. 14].
Termina a Exortação: “invoque-se o Espírito Santo para que infunda em nós o desejo intenso de ser santos para maior glória de Deus, animando-nos uns aos outros, com este propósito e, compartilhando uma felicidade que o mundo não nos poderá tirar” [GE, 177].