A opinião de ...

“Pinturas raras em perigo de as perder”.

O Pe. Doutor Videira Pires foi a pessoa que mais se aventurou na tentativa de estudar as tábuas da igreja matriz de São Pedro de Sarracenos. Comparou obras, inventariou, fotografou, mediu as pinturas e, usou a comunicação social para conseguir chamar à atenção dos investigadores da época. Faltaram-lhe os apoios, que tanto reclamou junto das entidades locais e nacionais. Entretanto a imprensa deu um salto de 360 graus, estando mais próxima das pessoas, já os apoios financeiros, para salvaguarda do património, esses mantêm-se escassos e, distantes para não variar.
Quem, como Videira Pires, se aventurava a iniciar os estudos de pintura antiga em Portugal usava dois meios, a comparação formal de obras e, a escassa documentação arquivística. Embora que já nos anos 1930 com Carlos Bonvalot, João Couto e Manuel Valadares, aparecessem as primeiras radiografias, a fotografia com luz ultra violeta e luz rasante, estas técnicas não estavam ao alcance de todos. Desde então desenvolveram-se equipamentos de análise muito sofisticados, que permitem mais e melhores exames e, mais conhecimento das obras de arte, mas o recurso a estes meios ainda é muito dispendioso.
Olhando as pinturas do retábulo principal, começando pela parte superior, estas representam a crucificação de Cristo [lado do Evangelho] e, a de Pedro [lado da Epístola]. Medem pela frente 107,50 cm X 59 cm e, por detrás do retábulo 114 X 64,50 cm. As da parte inferior são peças de 64 cm X 65 cm, pela frente e, por detrás do retábulo 65 X 71 cm. A do lado do Evangelho representa Cristo que aparece, como romeiro, a Pedro, quando este fugia de Roma, depois de O ter negado três vezes e lhe ter perguntado Quo Vadis Domine? A que Cristo responde: morrer, novamente, em Roma já que tu foges de lá. Em baixo, do lado da Epístola, vê-se Pedro com os evangelhos numa gruta [ou quiçá na cadeia [At. 12, 3-4], como prefere o arqueólogo Ernesto Vaz].
O médico Sampedrense João da Cruz Pires, ao descrever os quadros, acrescenta que a pintura é sobre tábua de olmo, ou negrilho, encaixilhada, adaptada no local por molduras feitas por “carpinteiro aldeão” que roubam ao quadro, na sua face anterior, cerca de cinco centímetros tirando-lhe pormenores importantes.
Numa das intervenções cromáticas, na talha do retábulo mor, executada por F. e J. Ferreira, de Bragança, em 12/08/1940, como se pode ler numa das tábuas da Epístola, vendo a obra pelo interior do tardoz, os quadros também devem também ter sido alvo de intervenção amadora.
A professora Emília Nogueiro afirma que “a presença de obras pictóricas originárias de boas oficinas é rara e, muito mais tratando-se de obras de produção tão recuada”. “Impõe-se um estudo urgente para a melhor preservação das obras e a sua consequente divulgação”. Para o investigador António Mourinho este são “painéis de muito valor que necessitam uma intervenção de técnicos experientes. Pinturas raras que esperam intervenção há mais de cinquenta anos e estamos em perigo de as perder”.

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