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Quarentena e quaresma, semelhantes na duração e, na profilaxia do contágio

No dia 11, o primeiro-ministro, António Costa, afirmou que este ano “não haverá festejos de Carnaval e, a Páscoa também não será a Páscoa que conhecemos.” Este tempo será de confinamento com o objetivo de evitar os excessos de interações sociais que se verificaram no períudo do Natal.
No dia 15 deu-se início a um novo períudo de quarentena, que por pouco não coincidia com o início da Quaresma, quarta-feira de cinzas dia 17. Quarentena e quaresma assemelham-se na duração, 40 dias e, na profilaxia do contágio, o confinamento. Para o fim do tempo da quaresma, como da quarentena, espera-se a Semana Santa e, o abrandamento das medidas restritivas para celebrar a Páscoa. A pandemia do coronavírus transformou este tempo litúrgico quaresmal, numa quarentena decretada pelo Estado, contudo, cabe-nos a nós transformar a quarentena numa verdadeira quaresma.
O Evangelho desta quarta-feira de cinzas, sem por em causa o plano de vacinação em curso [pvc] disponibiliza-nos três vacinas: a oração, o jejum e a esmola. Tal como a vacina do Covid – 19, esta é também uma escolha ética, para evitar pôr em risco a nossa saúde, a nossa vida, mas também a vida dos outros. Estas vacinas, contrariamente às outras, devemos correr a usá-las sem medo de ultrapassar grupos prioritários do pvc, pois são de acesso universal, livre e, sem perigo de esgotar os “stocks”. Este fármaco espiritual atua na imunização do pecado e, fraternizar-nos à volta do coração do Pai. Com esta os negacionistas, anti-vacina, não colocam em risco o pvc, nem os esforços de imunização no país, mas com a falta delas podem infetar a comunidade. As farmacêuticas com estas vacinas não vão à falência, pois estas são complementares, não dispensam o esforço dos laboratórios e, muito menos da ciência!
Também o Papa Francisco, na sua mensagem para a Quaresma, propõe contra o pecado da autossuficiência e do esquecimento de Deus, a vacina da “oração filial”, administrada no segredo do nosso quarto, na intimidade da nossa casa. Contra o pecado dos excessos de consumo, de ruídos e informações, de imagens e mensagens, a vacina do “jejum”. Contra o pecado da indiferença a vacina da “esmola”, ou da partilha, com os irmãos feridos, vítimas desta encruzilhada de pandemias.
Neste confinamento quaresmal, em família, marquemos na nossa agenda tempos determinados de oração! Façamos um plano de privação, de “jejum e abstinência”.De quê, o quê, como, quanto e em favor de quem? O importante é que se faça a nossa partilha de bens!  Em tudo e sempre caminhemos juntos, em direção à Páscoa, para renovar a nossa Aliança com Deus, a partir de um coração novo, de uma vida nova, de famílias novas, que são realmente a esperança de um mundo renovado, por tanta dor e por muito mais amor.
Quaresma e quarentena, não se adivinham fáceis. Às incertezas, ao cansaço, à perplexidade, ao desconcerto, ao esgotamento de feridas pessoais e familiares, aos efeitos económicos e sociais que a crise deixa atrás de si, soma-se a ausência de celebrações públicas e, o adiamento de atividades pastorais comunitárias. Contudo é necessário reagir ao vírus do individualismo e da indiferença, com a medicina do cuidado recíproco. Cuidar e, não apenas prestar de cuidados indispensáveis! Recuperar a “amabilidade”, nas relações humanas, promover a solidariedade, como assinala o cardeal António Marto, bispo de Leiria-Fátima.

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