Capela de São Sebastião, Bragança. «Sebastós, O Divino Venerável»!
Em 1569, Portugal foi assolado pela «Grande Peste». Oriunda de Veneza através das navegações comerciais, matou milhares de pessoas, 60.000 só em Lisboa. Dez anos depois regressou, disseminando-se por vários lugares do país. José Cardoso Borges refere nas suas «Memórias de Bragança 1721-24» que a Capela de São Sebastião foi por isso edificada nessa altura. A Nascente das muralhas da cidadela, à beira da rua de São Francisco. Faz sentido a consagração ao Santo Mártir de Narbone, assumido protetor contra a peste e as doenças contagiosas desde que em 680 uma terrível epidemia que contaminava Roma desapareceu quando os seus restos mortais foram levados para lá. Nascido em 256, Sebastião ingressou no exército romano com o propósito ser legionário, catequizar soldados e auxiliar os cristãos perseguidos. A sua competência militar mereceu as graças do imperador Diocleciano, que desconhecia a sua orientação religiosa, chegando a chefe da guarda pretoriana; enquanto era muito venerado e procurado pelos irmãos na fé. Foi descoberto e acusado de ingratidão e de acicatar a cólera dos deuses. Condenado à morte, foi atado a um poste e cravejado de flechas (as chagas do seu corpo, como as da peste), sendo abandonado à sua sorte. Tratado por Irene (Santa), sobreviveu miraculosamente, apresentando-se diante de Diocleciano a quem censurou pelas crueldades praticadas contra os cristãos. Incrédulo, o imperador mandou-o açoitar até à morte, a 20 de janeiro de 288. Assumindo-se 1569 como data de construção da Capela, assenta também no reinado de D. Sebastião (1568-1578), um ‘mártir’ de Portugal nascido no dia do martírio do santo e que desapareceu de espada na mão em Alcácer-Quibir (1578), onde quis fazer muita cristandade, entrando nas brumas da lenda. D. Sebastião, como São Sebastião. Porém, se desfolharmos o Livro das Fortalezas», feito por Duarte D’Armas a mando de D. Manuel I, no desenho respeitante ao Castelo de Bragança verificamos a presença de uma capela no exato lugar onde se encontra a de São Sebastião. O que nos leva a inferir, como fez Albino Pereira Lopo em «Bragança e Benquerença, 1900», que a existência Capela é anterior a … 1514! Do período da Peste Negra do século XIII-XIV? A alusão a 1569 pode remeter para as procissões e preces devocionais que foram feitas ao Santo na Capela, numa altura de rara provação. Estranho é ainda a alusão a um engenheiro que a terá demolido no contexto da Guerra da Restauração (1641-1668)! Para uso com fins militares? Ou porque estaria no enfiamento de lanço de muralhas, a complementar as do castelo, levantadas à época? A Capela de São Sebastião é posteriormente reerguida, a expensas da Câmara e da população, assim chegando aos nossos dias. Bem dimensionada e iluminada, com adro murado, distingue-a a fachada principal. O portal tem verga reta moldurada, com cornija apainelada onde assenta frontão triangular, de nicho concheado e vazado, ladeado por dois pináculos e encimado por cruz. A flanquear o portal constam duas janelas quadrangulares molduradas e um óculo circular afunilado no topo. É truncada por pequena sineira coroada por Cruz latina, com volutas adossadas. No interior, a nave tem teto em berço e púlpito de granito de bacia plena, do lado da epístola. O presbitério, orientado a Nascente e individualizado por arco triunfal de granito, tem teto em claraboia e o altar, do barroco, a branco e decoração vegetalista dourada, assenta em supedâneo de granito. A mesa é em forma de urna. O retábulo é definido por pilastras exteriores e um par de colunas salomónicas interiores de espiras ornadas, de capitéis coríntios encimados por caras de anjos. Ao centro abre-se tribuna moldurada, encimada por frontão recortado, com a imagem do Orago São Sebastião sobre trono, atado a um tronco de árvore e crivado de flechas. No ático, sob a cornija expõem-se um anjo alado de cada lado, sobrepujado por volutas centradas por resplendor.