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Igreja de Nossa Senhora da Assunção, Gondesende. “Gundesindi – Ida para o combate”!

Sede de freguesia, situada 12 km a Noroeste de Bragança, inclui as aldeias de Oleiros e Portela. Povoado antigo, circundado a Ocidente pelo rio Baceiro e irrigado por linhas de água, existem vestígios de castros e calçada romana, moinhos de água e fontes tipo mergulho. Integra o Parque Natural de Montesinho e, segundo a sua heráldica, o castanheiro frutado simboliza a base da economia da freguesia. No interior do povoado apresenta-se como cartão-de-visita a surpreendente Igreja de Nossa Senhora da Assunção. Integrada no território da Diocese de Miranda e na comarca de Bragança, pertenceu ao padroado real e à Casa de Bragança, por quem o abade era apresentado. Seiscentista e de traçado arquitetónico de timbre maneirista, as «Memórias Paroquiais de 1758» registam-na com três altares: altar-mor com “Nossa Senhora da Assumpçaõ, Sacrário, e Saõ Bento”; dois colaterais na nave, “o da parte direita do Altar com statua de Nossa Senhora do Rozario, de Saõ Sebastiam, e de Santo Estevaõ; e em outro a imagem de Christo Crucificado e Santo André Appostolo”. Referência ainda para a Irmandade do Senhor Crucificado, com “festa no dia da Exaltaçaõ da Santa Cruz”, e a existência de uma ermida no perímetro exterior da aldeia, entretanto desaparecida, dedicada ao apóstolo Santo André.
A fachada principal tem portal de verga reta em granito dotada de alpendre telhado, o dintel contém ilegível data gravada e uma ilustração cinzelada, algo esbatida, relativa à Assunção ao Céu da Virgem. Termina em empena truncada, com campanário rasgado por duplo vão que alberga dois sinos, arrematado por pináculos piramidais com bola e cruz latina ao centro, com acesso por escadas de granito adossadas à fachada lateral esquerda.
O interior é uma Igreja-museu, de paredes laterais, teto da nave e da capela-mor revestidos por peculiares caixotões apainelados de madeira pintados a óleo de motivos Crísticos, Marianos, apostolado e hagiográficos. Apreciáveis páginas de catequese ou aconchego na fé. Contém cinco altares, os referidos três do barroco joanino e dois rocaille posteriores. Tem coro-alto de varandim balaustrado a madeira, com cartela frontal policromada de motivos eclesiais. O compartimento do batistério e o púlpito com dossel, peça de estética singular, acham-se do lado evangelho. Os altares laterais na nave tardo oitocentistas, em talha policromada, aludem à Paixão de Jesus, do lado do evangelho, enquanto o confrontante, dedicado a Santo André, empresta referência memorial à extinta capela do Apóstolo. Os dois colaterais, gémeos e adossados às paredes do arco triunfal, são de origem, à semelhança do altar-mor. Os retábulos, de eixo único e talha dourada, têm capitéis coríntios, as quatro colunas são salomónicas, decoradas com pâmpanos, putti e fénices no fuste, e as arquivoltas seguem igual tipologia. O de Nossa Senhora do Rosário tem costeira em madeira pintada de azul com o M de Maria, no de Jesus Crucificado, com a Virgem Maria e o Apóstolo São João, a pintura da costeira remete para Jerusalém, encimado pelo sol e a lua. As caraterísticas do altar-mor, separado da nave por arco triunfal de volta perfeita, assente em pilares toscanos, assemelham-se aos colaterais, exceto a mesa, em urna neste e paralelepipédica naquele. Tem três colunas salomónicas de cada lado da tribuna e emergentes arquivoltas. A imagem de Nossa Senhora da Assunção, tão bela e antiga quanto as anteriores imagens, eleva-se em trono escalonado. A pintura costeira representa o “nascimento da Maria para o Céu”. Do lado do evangelho consta a porta de acesso para a sacristia, espaçosa e a destacar singelo retábulo de madeira com a Crucificação do Senhor e um ex-voto de agradecimento ao Divino Senhor de Gondesende, datado de 1801, por poupar as “crias da peste”!
O conjunto apresenta-se como um tesouro escondido, a merecer descoberta e … restauro!

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