Nordeste Transmontano

Agricultores querem relançar produção de cereal mas milhares de hectares de terras estão ocupados com fotovoltaicas

Publicado por GL em Qui, 2022-10-06 10:48

Os agricultores do Nordeste Transmontano pedem apoios específicos no âmbito da Política Agrícola Comum (PAC) para retomar a produção de cereais, de modo a recuperar a importância que a região já teve nessa cultura a nível nacional.

No entanto, milhares de hectares de terrenos férteis, sobretudo, na zona do Planalto Mirandês, entre Miranda do Douro e Mogadouro, estão ocupados por centrais fotovoltaicas de grande extensão. Há umas décadas essas terras foram boas produtoras de cereal, mas a atividade foi abandonada. Entretanto, nos últimos anos a produção de energia solar tem vencido. Por exemplo, a Central Fotovoltaica de Mogadouro, com 49MW, é a maior do género na região Norte de Portugal, sendo composta por 250 inversores, oito postos de transformação e uma capacidade de produção anual de 80.000MWh.

Este projeto conta com mais de 120 mil painéis fotovoltaicos, com capacidade para fornecer energia a cerca de 20 mil habitações, evitando a emissão de 31 mil toneladas de CO2 por ano.

Está ainda previsto o alargamento das fotovoltaicas a Mina de Tó, no mesmo concelho, para instalar mais de 43 mil painéis.

Nesses terrenos produziu-se em tempos cereal. “Bragança foi o quarto produtor nacional de trigo e o primeiro de centeio há 30 anos. Isto ainda é possível, pois há terra disponível, só que em menos quantidade, porque muita foi ocupada por castanheiros”, defendeu Luís Afonso, proprietário da Moagem do Loreto, à margem da primeira Jornada dos Cereais do Norte organizada pela Associação Nacional de Produtores de Cereais.

A diretora Regional de Agricultura do Norte, Carla Alves, acredita que a produção de cereal pode ser viabilizada “através da recuperação das variedades locais, como o trigo barbela, mais adaptadas à região, trabalhando no seu melhoramento genético para serem validadas para a indústria”.

Os agricultores garantem que é preciso que a União Europeia mobilize os recursos financeiros de compensação, para que a produção seja rentável. “São necessários para os agricultores da região, que em conjunto com o Alentejo e Beiras, podiam ajudar a relançar a atividade”, observou Luís Afonso, sublinhado que a produção de cereal deixou de ser aliciante porque “foram retirados os apoios que existiam”.

A falta de subsídios agravou a situação relacionada com a desvalorização do produto no produtor nacional face à concorrência de outros países, como a Ucrânia e os Estados Unidos da América. “Os preços baixaram muito. Há 30 anos o quilograma do trigo estava a 25 cêntimos, no ano passado estava abaixo disso. Tal como o centeio que estava mais barato do que naquela altura”, explicou o empresário vincando que se o governo quer mobilizar os agricultores “tem que pagar”.

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