A.M. Pires Cabral homenageado durante o primeiro Festival Literário Raízes

A Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros homenageou o escritor A. M. Pires Cabral durante o Festival Literário ‘Raízes’, que decorreu entre sexta e domingo, cuja primeira edição foi dedicada ao tema ‘Da palavra à paz’.
O escritor, natural da freguesia de Chacim, foi agraciado recentemente com o Prémio de Poesia António Ramos Rosa da Associação Portuguesa de Escritores. “Uma homenagem é sempre qualquer coisa que nos enche de satisfação. Portanto, é isso que eu sinto. Sinto que as pessoas encontram em mim qualidades para ser homenageado. É evidente que, muitas vezes, as homenagens são prematuras, quer dizer que se devia esperar mais alguns anos até ver se, efetivamente, a homenagem é justificada ou não”, referiu A.M Pires Cabral ao Mensageiro.
Por seu lado, o presidente da Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros, Benjamim Rodrigues considera a homenagem justíssima. “São homenagens merecidas. Ainda há pouco tempo recebeu o grande prémio da Associação Portuguesa de Escritores. É dos escritores vivos mais premiados e é para nós um orgulho porque é macedense”, indicou o autarca.
Para A.M. Pires Cabral que fez a sua carreira em Trás-os-Montes, atualmente reside em Vila Real, a interioridade e a distância dos meios literários não foi um obstáculo, nem impedimento para se afirmar. “Antes pelo contrário. Às vezes quando o meio é fraco e aparece uma pessoa que se distingue dos outros e isso é bom. Reconheço que viver no Interior, num sítio onde não há bibliotecas, nem teatro, não é o melhor caldo de cultura para criar uma carreira de escritor, mas eu tenho conseguido com muito esforço, força de vontade e muito desgaste do cérebro. Tenho conseguido levar a água ao meu moinho”, revelou A.M Pires Cabral admitindo: “Se calhar tive um bocadinho de sorte, porque o primeiro livro que publiquei teve boa receção”.
Ser apreciado logo no primeiro lançamento é “um bom ponto de partida, desde que as obras subsequentes consigam manter o nível”, salientou o autor que apresentou durante o festival, no passado sábado, o seu último livro Macedo de Cavaleiros – 50 séculos de história. “Não fui eu que lhe dei o título e não sei até que ponto os textos podem ser considerados como história. Eu não lhe daria esse título”, afirmou.
Virgínia do Carmo, da Poética Editora, envolvida na organização do festival, sublinhou “que o escritor se impôs, sem se impor,” ou seja, “tem sido uma presença discreta, não arrogante, não se impõe pelo seu ego, foi ganhando o seu espaço discretamente”.
O festival realizou-se entre sexta-feira e domingo e cada um foi dedicado a um tema, nomeadamente Dia das Pequenas Raízes. Atividades não faltaram, desde hora do conto, workshop de ilustração, com Inês Falcão, e encontro com escritores, como Miguel Pires Cabral, João Pedro Mésseder, Idalina Brito, António Carneiro, C. A. Afonso, Nuno Pires, A. M. Pires Cabral, Agostinho Santos, Pedro Branco, J. B. César, Adelaide Monteiro, Concha López Jambrina, Júlia Lello, António Carlos Santos, Alexandre Hoffmann Castela e José Pedro Leite, entre muitos outros.
No Sábado foi o Dia da Paz, com uma mesa-redonda sobre o tema, lançamento de livros, Encontro de Escritores Transmontanos.
O Domingo foi Dia da Natureza e além de um passeio pelo Azibo e de um almoço literário, será realizada uma mesa-redonda: Ser Escritor para quê?
O Festival Literário teve organização da Câmara e da Poética Editora. “Queremos que a literatura se cruze com as outras artes. Temos uma exposição do artista Agostinho Santos, ‘Livros de Artistas-Raízes da Paz’, que está em residência artística. Fazemos essa interação, que é muito bonita”, referiu Virgínia do Carmo, da Poética Editora.
O auditório do Mercado Municipal foi o epicentro dos acontecimentos, mas o Raízes – Festival Literário Transmontano ramificou-se igualmente pelo Parque Urbano Eng. Luís Vaz e um passeio pela Albufeira do Azibo. “Centramo-nos no tema da paz porque é muito pertinente e assistimos a guerras em todo o mundo, o que nos levou a decidir que seria um bom tema para ter como foco central do festival”, descreveu Virgínia do Carmo.
Agostinho Santos apresentou a exposição ‘Livros de Artistas-Raízes da Paz’
O pintor, natural do Porto, esteve em residência artística, no festival, com os seus livros de artista, uma espécie de ateliers portáteis que transporta consigo para onde vai. A exposição juntou 22 livros de artista. “Quando me ausentava para o estrangeiro enquanto jornalista, eu levava blocos, porque tenho necessidade de pintar todos os dias. Nestes blocos de fole japoneses pintava e desenhava. Para mim o livro do artista é uma espécie de diário, onde registo o que se passa nas viagens. O que me emociona, o que me desilude, o contacto com os outros, a desumanização”, descreveu Agostinho Santos. Em Macedo pintou interpretações sobre livros, nomeadamente as obras de José Saramago.
“O livro de artista é um objeto que está sempre ao meu lado. Onde registo o que sinto, mas tenho vários pintados a quatro mãos, com autores como o Zulmiro de Carvalho ou o José Rodrigues, o Válter Hugo Mãe e outros ”, acrescentou.