Nordeste Transmontano

Há oito anos que não havia tão pouca cereja

Publicado por GL em Sex, 2024-06-07 18:39

Desde 2016 que a produção de cereja não era tão baixa em Portugal. Segundo as estatísticas do INE este ano foram produzidos 1240 quilos de cereja por hectare. Pior do que isto só há oito anos, quando se colheram 1158 quilos por hectare.

O distrito de Bragança não foge à regra nacional. O saldo produtivo é negativo.
Em Alfândega da Fé, Macedo de Cavaleiros e Mirandela, principais concelhos produtores no distrito, a quebra na colheita deste fruto tão apetecível situa-se entre os 30 e mais de 50%.

O último boletim do INE explica que as quebras na produção ficam a dever-se às condições meteorológicas registadas no final de março e início de abril, com queda de granizo, geadas, chuvas, ventos fortes e elevadas amplitudes térmicas. “Prejudicaram a floração e vingamento dos frutos. Embora as variedades temporãs tenham sido as mais afetadas, de um modo geral, todas as variedades apresentam menos frutos e de calibres heterogéneos, face a 2023”, refere o documento.

No concelho de Alfândega da Fé a quebra é no mínimo de 50%, mas alguns produtores vão colher ainda menos.

Só a cooperativa agrícola local conta com menos 15 toneladas do que em 2023, que  também foi um mau ano. “Não temos qualquer apoio aos prejuízos. A maioria dos produtores não têm seguros e as seguradoras não estão viradas para isso”, afirmou Luís Jerónimo, dirigente da cooperativa, que aponta milhares de euros de perdas económicas na produção deste fruto que nos últimos anos não tem tido grande rentabilidade devido às alterações climáticas .

Os produtores de Alfândega da Fé queixam-se dos preços elevados dos seguros de colheita, que deviam ser feitos para mitigar prejuízos. O preço é  a razão principal para os agricultores não aderirem a este paliativo.  “Não compensa”, admite Luís Jerónimo que pede apoios para ser mais fácil fazer os seguros.

Na freguesia de Lamas, em Macedo de Cavaleiros, as perdas na colheita rondam os 40 por cento. “Não é o que esperávamos, mas o tempo não tem ajudado a cereja. Durante a colheita vai notar-se mais  as perdas, porque muita fruta está rachada e está em risco de apodrecer por causa da humidade”, explicou Leonardo Vila Franca, presidente da junta de freguesia.

A aldeia de Lamas é atualmente um dos maiores produtores de cereja no distrito, atingindo 400 toneladas num ano de boa safra. “Este ano não deverá ultrapassar as 250 toneladas. A quebra é acentuada, mas já houve anos piores”, acrescentou o autarca.

Cereja & Companhia em Alfândega da Fé

Onde não vai faltar o tão apetecido fruto é na Feira Cereja & Companhia em Alfândega da Fé. Nos dias 7, 8 e 9 de Junho esta vila transforma-se na capital da cereja, que é vendida em fresco, a cinco euros o quilo, mas também transformada em compotas e doçaria.

Há ainda concertos com David Antunes & The Midnight Band (7 de junho), Nininho Vaz Maia (dia 8), e João Pedro Pais (dia 9) e muitas outras atividades de animação.
O tempo não foi mau para todas as culturas, como para a cereja  e fruta em geral. Este ano preve-se um aumento generalizado das produtividades dos cereais depois de dois anos de seca.

Ao contrário da cereja, tudo indica que será um bom ano de cereal e forragens. As condições meteorológicas de março e abril tiveram um efeito positivo no desenvolvimento vegetativo das culturas cerealíferas de outono/inverno, que se encontram na fase de espigamento e início da maturação, muito exigente em necessidades hídricas.

A precipitação ocorrida tem promovido o crescimento das espigas e o enchimento do grão, o que se irá traduzir num aumento generalizado das produtividades, depois de duas campanhas fortemente marcadas pela seca.

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