Mirandela

Projeto “Daqui” partilha conversas com as gentes transmontanas

Publicado por Fernando Pires em Qui, 06/26/2025 - 10:29

Entre março de 2024 e este mês de junho, a fotógrafa Paula Preto, a ilustradora Sónia Borges e Marta Miranda, proprietária da Galeria do Mercado, estiveram nas primeiras quintas do mês, no Mercado Municipal de Mirandela, com ações de mediação dirigidas a diferentes públicos, veiculadas por conversas, oficinas e atividades que provocam e escutam histórias ligadas à migração, hospitalidade e à forma como nos relacionamos com o lugar que habitamos.

Tratou-se do projeto DAQUI, de Artes Visuais, Fotografia e Vídeo, implementado através do Programa de Apoio em Parceria - Arte e Coesão Territorial da Direção-Geral das Artes.

O Projeto chegou ao seu final, mas Marta Miranda admite que já sente imensas saudades das histórias das pessoas que ouviu ao longo de um ano. “Sinto saudades dos passeios pelas aldeias, acho que conheci melhor o território, ouvi muitas histórias. Nesta fase, da forma como a sociedade está, faz-nos pensar muito, ouvir as histórias das pessoas, faz-nos compreender um bocado o mundo que nos rodeia. Foi um projeto bastante desafiante”, conta.

“Nós entramos no mercado como estrangeiras e saímos daqui super acarinhadas, oferecem-nos rosas, mandam-nos mensagens a dizer que é bom ver aqui os miúdos, que criam mais movimento”, acrescenta Marta.

Também a ilustradora Sónia Borges confessa que foi um projeto “muito emotivo” e sente uma enorme felicidade por poder partilhar todas as histórias que o viu. “É muito bom poder olhar para a exposição das fotografias da Paula Preto e reencontrar ou reconhecer os encontros, os lugares e as pessoas com quem estivemos durante este tempo todo, porque só assim é que se faz comunidade e só assim é que o nosso trabalho faz sentido e o nosso projeto faz sentido”, afirma. “Costumo dizer que, naquilo que é o meu trabalho na parte da ilustração, podia estar a trabalhar apenas no atelier e é um trabalho completamente legítimo, mas eu sinto falta disto, que é escutar o trabalho, as suas respostas ou poder contar e partilhar aquilo que ouvi, não são só as minhas histórias”, sublinha.

Os encontros não passaram apenas pelo mercado, alargando-se às aldeias, à Escola Profissional Agrícola de Carvalhais, à Escola Profissional de Música, à Escola Básica do Convento e à Associação para a promoção da saúde mental - Matiz. Sónia Borges revela que, ao longo do projeto, “houve muitas, muitas surpresas, no sentido em que encontramos pessoas muito especiais e muito generosas na partilha das suas histórias e neste encontro, naquilo que nós sentimos nos dias que correm, a imigração, o desconhecido, o medo, a violência com que às vezes é a resposta para estas situações, encontramos que, na partilha da nossa história, encontramo-nos uns com os outros”, adianta.

Partilharam o processo em 4 exposições intermédias: Mãe água; Cabem muitos Mapas no mapa Daqui; A meio do Caminho; e Raízes. Marta Miranda entende que o projeto também ajudou e muito a criar uma nova dinâmica no próprio mercado municipal. “É também esta coisa do mercado, deste espaço, que é um espaço cheio de relações, está no centro da cidade, e venho há três anos a observar as pessoas que vêm à quinta-feira, à feira, e que não compram nada, só vêm conversar, estarem umas com as outras. Vi pessoas das aldeias a dar dinheiro aos miúdos das escolas quando vinham, porque não tinham rebuçados para lhe dar. Ou seja, foram muitas emoções, foi a partilha de muitas histórias, foi um projeto muito emotivo”, confessa.

O legado fica agora na posse do Município de Mirandela – os áudios, as fotografias, os vídeos e os textos- e será ainda editado um catálogo.

Assinaturas MDB