Nordeste Transmontano

Seca só pode ser revertida com chuva acima do normal

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2022-09-08 09:24

A seca que se vive em toda a Península Ibérica só poderá ser revertida se, no próximo inverno, chover mais do que o normal.
O diagnóstico é de Dionísio Gonçalves, climatologista e investigador do Instituto Politécnico de Bragança (IPB).

“Seria precisa uma precipitação pelo menos igual ao que seria normal em setembro. Esta seca só com precipitações acima do normal. Mas o que se ouve falar é que a médio e longo prazo será abaixo do normal”, disse ao Mensageiro Dionísio Gonçalves, precisando que, para já, a situação que se vive “é típica do mês de setembro”.

“A Senhora da Serra veio e a temperatura mudou”, notou.

Dionísio Gonçalves lembra que, “no inverno, dominaram as situações de estabilidade”.

“O anticiclone dos açores estacionou mais na Europa central. Esta seca não é só peninsular mas afetou toda a Europa e até as ilhas britânicas.
Os sistemas anticiclónicos estiveram bloqueados durante a época das chuvas, de outubro a março. Se, nessa altura, as situações anticiclónicas prevalecem, a frente polar não desce até às nossas latitudes.

E nós sobrevivemos com a água que cai no semestre chuvoso. Agora, esta situação de bom tempo é normal.
Estamos habituados a que na Senhora da Serra haja alterações, com as primeiras frentes polares a deslocarem-se.

Já estão a deslocar-se para sul mas não o suficiente para haver precipitação significativa na nossa região”, explicou Dionísio Gonçalves.
Para já, “na península ibérica tem chovido mas apenas na Galiza. As frentes frias não entram na Península”, frisa.
Por isso, para já não se antevê que venha chuva em quantidade para o distrito de Bragança.

“Para aqui, vamos ver. Deus queira que possa cair uma bátega de água, era fundamental porque, se não, nem castanhas temos”, antevê.
“Se falha a chuva de setembro, a produção de castanha vai ser muito afetada. Estamos expectantes”, acrescentou o investigador.

Estes períodos de seca têm sido cada vez mais frequentes, em ciclos de mais ou menos cinco anos. “CEstes períodos de seca estão a acentuar-se e a repetir-se cada vez mais depressa. Temos de preparar-nos para vivermos com metade da chuva que tínhamos.

Até quando vai esta tendência, não sabemos. Esperemos que não seja por muitos anos”, concluiu.

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