Nordeste Transmontano

ULS responde ao presidente da Câmara de Moncorvo e diz que “não havia critério clínico que justificasse” a transferência dos utentes da UCC

Publicado por AGR em Qui, 2020-04-09 19:52

A Unidade Local de Saúde do Nordeste respondeu hoje ao presidente da Câmara de Torre de Moncorvo, Nuno Gonçalves, garantindo que “não havia critério clínico que justificasse” a transferência de utentes da Unidade de Cuidados Continuados da Santa Casa da Misericórdia local para as Urgências.

Em comunicado, a ULS explica que “no dia 4 de abril de 2020, face aos resultados dos testes realizados aos utentes, após caso COVID19 positivo em profissional de Saúde, que indicavam que vários utentes apresentavam resultados positivos, foi avisada de imediato a UCC de Torre de Moncorvo e a Autoridade de Saúde deslocou-se às instalações da mesma para verificar as condições clínicas de utentes e profissionais e condições estruturais do edifício”.

“Constatou-se o seguinte:
1. Os utentes internados estavam estáveis sem critérios para transferência para o hospital;
2. Os profissionais usavam Equipamentos de Proteção Individual (EPI) desadequados para a situação;
3. O edifício reunia todas as condições estruturais para formar duas coortes separadas, sem possibilidade de cruzamento, uma com utentes Covid positivos e outra com utentes Covid negativos.
Face a isso, convocou-se uma reunião no centro de Saúde de Torre de Moncorvo com a presença da Coordenadora da UCSP de Torre de Moncorvo, da Direção da UCCI, do enfermeiro chefe, do Responsável Clínico e do Presidente da Câmara de Torre de Moncorvo, de forma a comunicar as constatações verificadas, nomeadamente a necessidade urgente de dotar os profissionais dos EPI adequados e da adoção das medidas de proteção e higiene que deviam ser implementadas de imediato.

Referiu-se ainda a necessidade de formação das duas coortes (uma com utentes COVID19 positivos e outra com doentes COVID19 negativos) de acordo com o próprio plano de contingência da Instituição. Foram avisados todos profissionais para adotarem as medidas de isolamento e de proteção dos conviventes na sua residência de acordo com as orientações em vigor da DGS”, lê-se.

Perante o diagnóstico da situação apresentado, a ULS explica que “com exceção da Autoridade de Saúde e da Coordenadora da UCSP, todos os presentes decidiram acionar o Plano de Emergência Distrital para transportarem todos os utentes para as urgências da ULSNE sem qualquer tipo de critério clínico de agudização que o justificasse”.

O documento vai mais longe e acusa mesmo o médico da instituição de não ter observado os pacientes a seu cargo.
“A autoridade de Saúde, que observou os utentes na UCCI, contrariamente ao médico da instituição que não os observou, esteve sempre contra esta medida uma vez que não existiam critérios clínicos para a transferência dos utentes e estes iriam ocupar lugares destinados a doentes com gravidade”, lê-se.

“Perante o cenário de utentes da UCCI a serem «despejados» para as ambulâncias, as outras entidades convocadas pelo acionamento do Plano de Emergência Distrital, não concordaram com a medida proposta porque poderia meter em risco a própria Saúde dos utentes, além de condicionar a resposta, que fosse necessário dar, a utentes graves a necessitar de cuidados.

Perante o impasse, e atendendo à necessidade de assegurar os cuidados aos doentes da UCCI, e de acordo com o Despacho nº 4097-B/2020, a Autoridade de Saúde decidiu que:
• A instituição tinha condições estruturais para proceder ao isolamento dos doentes;
• Era necessário assegurar os cuidados adequados aos utentes assegurando os Recursos Humanos e EPIs adequados;
• Foi decidido que todos os funcionários que estavam em quarenta e que realizaram teste para covid 19 negativo reatavam o trabalho, cumprindo todas as regras de proteção e higiene adequadas à situação.
• Todos os funcionários que testaram positivos ficaram em isolamento.
• Todos os funcionários que realizaram teste nesse dia e que não apresentavam sintomas poderiam trabalhar utilizando os EPI adequados e cumprindo todas as regras de higiene e isolamento social exigidas para a situação até se conhecer o resultado do teste.
• Todos os funcionários foram contactados pela Autoridade de Saúde tendo sido explicadas as medidas que cada um devia tomar. Foi também auscultada a opinião dos funcionários, tendo-se todos solidarizado com a situação de crise grave que ocorreu na instituição”, lê-se ainda.

“A ULSNE compareceu, através dos Responsáveis do Departamento de Cuidados de Saúde Primários, tendo de imediato disponibilizado alguns EPIs de forma a que os profissionais pudessem trabalhar em segurança. Também a autarquia se mobilizou para conseguir os EPI adequados, tendo sido assegurados de imediato os equipamentos necessários para o adequado funcionamento da Instituição”.

A fechar, a ULSNE garante ter assegurado ainda, “de forma a contribuir para o normal funcionamento da Unidade, o contributo de algumas horas de 1 médico, 3 enfermeiros e 3 Assistentes operacionais”.

Esta posição surge um dia depois de ter sido publicado um vídeo na página do município moncorvense em que o presidente da câmara se dizia “abandonado” pelas autoridades de saúde do distrito.

No mesmo vídeo, Nuno Gonçalves confirmou, tal como o Mensageiro adiantou no domingo, que a autarquia realizou 203 testes sorológicos.

Recorde-se que este tipo de testes não são os indicados para determinar se uma pessoa está infetada mas se, numa fase posterior, desenvolveu anticorpos contra a doença.

As Unidades de Cuidados Continuados integram uma rede nacional, contratualizada com o Estado, que paga cerca de 90 euros por cada utente recebido.

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