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Viticultores em guerra com a direção da adega cooperativa de Valpaços por falta de pagamento de três campanhas

Publicado por Fernando Pires em Qui, 2024-08-29 08:11

A poucos dias de se iniciar mais uma campanha da vindima, vários viticultores associados da Adega Cooperativa de Valpaços (ACV) dizem ter esgotado a paciência com as promessas não cumpridas, por parte da direção, do pagamento de três campanhas que estão em atraso (2013, 2021 e 2023) e admitem não entregar as uvas na campanha que está prestes a começar.

Uma carta aberta a que tivemos acesso, subscrita por muitos associados, descreve um cenário “caótico” e acusam mesmo a atual direção de ser a responsável por mais de 400 hectares de vinha que já terá sido arrancada nos últimos anos.

O presidente da direção, Pedro Vinagre, garante apenas que uma das campanhas em atraso será brevemente liquidada.

Alguns associados dizem estar fartos de esperar pela cor do dinheiro e pensam em não entregar as uvas naquela adega, Muitos admitem nem sequer vindimar. “Estou a pensar seriamente nisso. Se já não pagaram as outras, ainda vou por lá mais uvas, nem pensar”, afirma Fernando Coelho.

“Já não meto lá as uvas, prefiro deixar na vinha e ganho mais. Já me devem quase dez mil quilos delas”, conta Carlos Fontoura. “As pessoas assim não podem viver, porque não podem trabalhar de graça. Vou esmagar algumas para meu gasto e o resto ficam lá todas na vinha”, acrescenta este agricultor.

São apenas alguns testemunhos de associados que acusam a direção de “gestão danosa”. Na carta aberta, consideram que a ACV “deixou de ser fonte de rendimento para os viticultores para ser uma fonte de despesa inútil e supérflua”.

Falam ainda na “falta de credibilidade” que o vinho da ACV passou a ter, considerando que a prova está na queda das vendas que foi “superior a 50 %, já que passou de 1.200.000 € para 570.000€, conforme consta nos relatórios de contas apresentados nas Assembleias Gerais”, afirma a missiva.

São ainda apontados outros fatores ligados à gestão que comprometem o futuro e apelam à direção que se demita.

 

Presidente da Cooperativa garante liquidação de uma campanha

 

Confrontado com estas críticas, o presidente da direção da ACV admite algumas dificuldades que diz serem “transversais no setor do vinho em todas as regiões do país”, garantindo, por agora, que vai pagar uma das campanhas em falta. “Está a contabilidade e o banco a tratar do processo, porque é moroso, é preciso perceber os créditos que os sócios têm, é o que está a acontecer neste momento é fazer esse trabalho e quero acreditar que dentro de duas semanas está uma campanha liquidada”, afirma Pedro Vinagre.

Conta ainda que, infelizmente, esta situação é “o normal” das cooperativas. “Era muito bom descarregarmos os tratores das uvas, e faço parte do grupo dos maiores associados desta casa, e quando a minha carrinha traz seis contentores de uvas de cada vez, gostava

muito de levar o dinheiro para casa, infelizmente não é o que temos. Há muitos anos para cá, as cooperativas pagam a campanha do ano anterior no ano seguinte. É assim que tem funcionado”, diz.

Quanto à campanha de 2021, não adianta o prazo para pagamento. “Foi o ano onde houve um excesso de vinho em todo lado e quando há uvas a mais, vêm para todas as cooperativas, porque estatutariamente somos obrigados a receber as uvas todas. Hoje temos aproximadamente um milhão e meio de litros dos anos anteriores, dentro de portas, que já não devia estar cá, mas vamos ver o que podemos fazer”.

Apesar de admitir algumas dificuldades nos últimos anos, que liga ao facto de termos atravessado uma pandemia, Pedro Vinagre desmente que tanha havido uma quebra nas vendas. “No último relatório de contas pode-se ver um aumento dos vinhos engarrafados nas vendas gerais da adega, aumentamos aproximadamente 50% face ao ano anterior, mas 2022 e 2021 foram anos complicados”, admite.

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