A opinião de ...

Generais

Demitiram-se dois generais na sequência do roubo de armas em Tancos (localidade vizinha da aldeia rente ao Tejo onde moro), assim ao modo de birra grávida de gongorismo, incluindo um poema. De seguida surgiu na pantalha o comando Tinoco de Faria (conhecido por alguns rapazes do meu tempo) cujas ideias misturavam teias de aranha embrulhadas em confusos panejamentos ideológicos, nos intervalos esparsos clarões de bom senso. Dele foi a lembrança da manifestação das espadas ao modo das fúrias do chanfalho e bota cardada da Iª República.
Se nos primeiros tempos da República eram constantes as turras casmurras nas quais militares de alta e baixa patente participavam conforme o grupo agarrado a um qualquer atavismo, no consulado de Salazar o seu braço armado Santos Costa domou os militares rebeldes `à força de demissões compulsivas, reformas ao estilo ou Tua ou rua, vexações, logrando dividir, exílios e rebeliões sem consistência a possibilitarem novas repressões.
Em Bragança oficiais reviralhistas contavam-se pelos dedos de uma mão, o cordato Capitão Vidal só queria paz e sossego, o Alferes Fernandes desabafava na Praça da Sé. No entanto, no seio dos militares salazarentos pululavam intrigas, ciúmes e despiques na partilha de lugares e subidas de posto. Os exemplos de maior nomeada centram-se nos coronéis Salvador e Machadinho, outros abrangeram o coronel Direito de Morais e oficiais de menor patente, tenentes e capitães colocados nas forças de segurança. Entre eles odiavam-se, caso um civil tentasse interferir uniam-se todos na exaltação corporativa.
Os dois generais ora demissionários fizeram-no porque no seu entender o referido cordão umbilical do todos por um, um or todos ficou ferido no momento do General Rovisco ter admitido culpas exclusivas dos oficiais sedeados em Tancos. O Chefe do Estado-Maior contrariou a não admissão de culpa latente em todos os exércitos, de dúvidas existirem leiam a «Psicologia da Incompetência dos Militares» da autoria de F. Dixon. Os arrufos dos dois generais não passam disso mesmo.
Obviamente, é grosseira evidência o facto de os amuos destes dois Generais não terem repercussão para além do sensacionalismo das televisões cada vez mais insensatas na procura de audiências, porque a larga maioria da opinião pública nutrir singular indiferença em tudo que toca às Forças Armadas, a precipitada saída das colónias é uma das causas, outra é serem vistas como um corpo estranho à sociedade civil mais interessada na vidinha, este desfasamento iniciou-se na altura das juventudes partidárias terem imposto o fim do serviço militar obrigatório tornando os quarteis depósitos de readmitidos. Agora, já se ouvem vozes a lamentar o despropósito dos meninos fofos e temerosos da disciplina castrense, mais interessados nas noitadas do frágil. Os fautores andam por aí inclusive a gastarem fundilhos na Assembleia da República.
O difuso entendimento da valia da Instituição Militar também pode e deve ser assacado à Escola, deixou de existir o culto pela bandeira, observem a negligência dos meninos no momento da execução do hino nacional, isto para não falar do desdém dos atletas ao ouvirem os acordes da Portuguesa no início dos jogos. Neste último pormenor o caso muda de figura se obtivermos o triunfo.
O Mundo mudou, a careira militar deixou de ser aliciante para os senhoritos cujos pais e avós ostentavam chapéus de plumas, faixas de cetim a concederem imponência às medalhas, por outro lado também os rapazes sem perspectivas de futuro cujo escape estava na Academia Militar, acompanharam o progresso do desmame escorados noutras formas de vida.
Os generais em causa irão passar ao anonimato sem honra e glória. É a vida!

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