A opinião de ...

Vale de Lágrimas

O Portugal dos graúdos está a transformar-se num imenso vale de lágrimas marcado por uma depressão originada pelos fortes e cortantes de leste provindos da estepe berlinense, aumentados à medida que passa pela gastronómica França e a pandeireta garrida espanhola. A oeste nada de novo, o tornado está previsto há muito tempo a produzir nefastos efeitos na ilha Terceira causando desolação, desemprego e desespero. O Portugal dos empreendedores acredita nos ventos do sul, melhor dito é obrigado a acreditar, procurando brisa calma e estável em Angola e no Brasil, diminuindo por cá ao nível da massa crítica, do entusiasmo, fazendo estremecer os prudentes, os estudiosos e os rigorosos das estatísticas relativamente ao futuro. O Portugal dos pequeninos minga de dia para dia, levando o General Ramalho Eanes a considerar inadmissível existirem milhares de crianças a passarem fome. Não sendo admissível nem de perto, nem de longe, uma coisa é certa: existem, tudo indicando vir aumentar o número caso persista o vento governamental de levar tudo a eito sem sombra de remorso, apostado no deixar as ruas desertas, as casas devolutas, obrigando os portugueses a entrarem no enorme casarão dos indigentes, pobres de pedir junto às grandes superfícies repletas de tudo, apenas frequentadas pelos turistas acidentais, os diplomatas, além dos sugadores da teta das negociatas. Continuar a salmodiarmos imprecações contra o desvario dos governantes do antecedente não leva a lado nenhum, deve servir de aviso para um – nunca mais –, aos actuais governantes como lição, obrigando-os a fazerem todos os esforços no sentido de não aumentarem o peso da canga dos impostos, combatendo eficazmente o desperdício, o amiguismo, os monopólios, a gangrena das parcerias leoninas. O Portugal no seu todo a sofrer os efeitos de ventos maléficos, lembra os olmos da minha meninice de grossa casca e desnudados ramos, as folhas que lhe brotavam nos nós cimeiros eram raquíticas e frustes, quase esfarrapadas. A falta de água levou-os a fenecerem sobrando os troncos queimados nas lareiras da aldeia, acabando em cinza derramada nas cortinhas queimadas pela geada. 

A falta de seiva está a aniquilar a árvore frondosa portuguesa protectora dos vergéis, leia-se das crianças e na sustentação das escarpas, entenda-se adolescentes. 

A continuar deste modo não é difícil vaticinarmos o fim da árvore tal como o carvalho dos foros o foi no bombardeamento em Guernica. E Pablo Picasso já morreu!

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