A opinião de ...

A ditadura do politicamente correto

Por estes dias, saltou-me à vista a notícia de que a Federação Internacional do Automóvel aprovou um regulamento que visa impedir os pilotos de Fórmula 1 de emitirem opiniões políticas. Assim como quem coloca um garrote nas liberdades que foram sendo conquistadas a pulso, ao longo de anos.
Neste caso, é uma regra objetiva, que impede cidadãos de emitirem as suas opiniões de forma pública, mesmo que não estejam relacionadas com a atividade em si (neste caso, o desporto automóvel).
Também por estes dias, deparei-me com uma pequena entrevista do antigo empresário de um dos mais conhecidos, e titulados, pilotos de motociclismo da atualidade.
Nessa entrevista, Alberto Puig recordava algumas das maiores rivalidades do motociclismo. Mas também dizia que, há dez anos, havia mais “autenticidade” no desporto e que “não havia tanta hipocrisia” entre os pilotos, que hoje estão presos à ditadura do “politicamente correto”.
Ou seja, “as pessoas não dizem o que verdadeiramente pensam para não excederem os limites do que é considerado aceitável.
Ora, uma das maiores conquistas da humanidade, numa luta que em Portugal é bastante cara (veja-se a revolução do 25 de abril e as alterações daí resultantes para a sociedade portuguesa, principalmente ao nível da liberdade de expressão). Liberdade de qualquer cidadão poder exprimir o seu pensamento, qualquer que seja.
Mas os tempos de acalmia na sociedade levam os cidadãos a baixar a guarda, a aburguesarem-se nos seus costumes. E o que temos assistido, nos últimos anos (sobretudo nos últimos 20, com a proliferação da internet), tem sido uma paulatina redução de liberdades, sobretudo de expressão. Ora por alterações regulamentares, ora por pressão dos pares, para se agir e, sobretudo, expressar de forma correta e dentro de determinados cânones.
Apontar isto ou aquilo deixa de ser aceitável aos olhos da “polícia do politicamente correto”, que vai afunilando comportamentos.
As turbas lideram agora as correntes de opinião, sobretudo nas redes sociais onde, curiosamente, só está presente militantemente apenas uma pequena parcela da população, que parece, assim, exercer o domínio sobre os restantes.
Mas o mesmo se passa, muitas vezes, no mundo cá fora, onde uma pequena parte da população parece sentir-se legitimada para exercer poder absoluto sobre os restantes, sem respeito por direitos cívicos nem democráticos.
Deixar que os direitos conquistados à custa de sangue, suor e lágrimas é um desrespeito pela memória dos que lutaram.
Mas neste combate, perde-se por falta de comparência. E, em termos de direitos, perder nunca é o verbo que se quer utilizar.

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