A opinião de ...

Nordeste Transmontano a caminho da extinção

O habitante do Nordeste Transmontano (que corresponde ao território do distrito de Bragança, com os seus 12 concelhos), caminha a passos largos para a extinção. Pelo menos, os que ainda por cá vivem, em cativeiro.
Os censos realizados no ano passado (2021) apontam para uma redução da população face a 2011, ano em que se tinham realizado os anteriores censos, na ordem dos dez por cento. São 122.833 pessoas agora quando, há dez anos, eram 136.252 habitantes.
É uma perda de um por cento por ano.
Mas o susto é maior quando olhamos para lá do horizonte imediato.
O dado mais antigo que consegui encontrar diz respeito ao ano de 1864. Nessa altura, o distrito de Bragança registava 158.909 habitantes. Ou seja, numa altura de miséria extrema, na sequência das três invasões francesas e de uma guerra civil (1832-1834), o Nordeste Transmontano tinha mais 36 mil habitantes, mais do que todo o concelho de Bragança na atualidade.
A tendência foi de crescimento nos anos seguintes:
1900 – 185.162
1911 – 192.024
1920 – 170.302 (-21.722 após I Guerra)
1940 – 213.233
Ou seja, à excessão de 1920, numa altura em que a Europa ainda tentava recuperar da destruição e mortandade da I Guerra Mundial, a população cresceu, por entre os pingos da chuva e no meio da miséria e aflição.
Em 1940, ano da fundação do Mensageiro de Bragança (já lá vão 82 anos), o distrito chegou aos 213.233 habitantes, mais 89 mil do que agora (quase o dobro).
Concelhos 1940 2021
Alfândega 9.866 4.324 (-56%)
Bragança 34.468 34.584 (+0,44%)
Carrazeda 14.639 5.490 (-62%)
Freixo 7.459 3.216 (-57%)
Macedo 22.756 14.251 (-37%)
Miranda 12.530 6.463 (-48%)
Mirandela 27.348 21.384 (-22%)
Mogadouro 18.661 8.301 (-56%)
Moncorvo 18.570 6.826 (-63%)
Vila Flor 11.343 6.050 (-47%)
Vimioso 12.516 4.149 (-67%)
Vinhais 23.077 7.768 (-66%)
213.233 122.833 (-42%)

Ou seja, em 82 anos, apenas Bragança cresceu ligeiramente no número de habitantes. Os restantes concelhos perderam uma batelada de gente. Alguns (Vimioso e Vinhais é onde a situação é mais grave) ficaram mesmo reduzidos a um terço daquilo que eram na altura.
Foi nesta altura que me passaram os soluços... por completo.

Por isso, quando vemos entidades como o IPB que, no último punhado de anos, cresceu e trouxe mais de dois mil alunos para a região (atualmente tem perto de 10 mil) queixar-se dos critérios de financiamento do Governo, que não cumpre com o prometido (deveria ser por cabeça e não por histórico), não consigo deixar de me sentir uma espécie de lince ibérico, uma espécie em vias de extinção.
É preciso pôr travão antes que sejamos todos tigres da Tasmânia... já extintos.

Edição
3913

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