A opinião de ...

O trigo e o joio

A divulgação do relatório publicado esta semana sobre abusos sexuais na Igreja Católica tem sido olhado sobre diversos prismas mas resulta, acima de tudo, num passo em frente da própria Igreja.
No entanto, é preciso não embarcar num exercício de apedrejamento público da instituição, pois o que ressalta é que não se pode, em caso algum, tomar a parte, por mais pequena que ela seja, pelo todo.
Este relatório deve servir para uma reflexão da sociedade e própria Igreja sobre os mecanismos que existem ou não existem e devem ser criados para a proteção dos seus.
Mas não podemos esquecer que o relatório incide sobre um problema que, sendo também da Igreja, não é exclusivo da Igreja.
Um predador é exímio em esconder-se e em infiltrar-se de forma a aproximar-se da sua vítima o mais possível, usando os mecanismos que tem à sua disposição.
Por isso, um predador infiltra-se na Igreja para usar a proximidade que existe com crianças e jovens da mesma forma que outro pode usar um mecanismo desportivo, ou outro em que haja contactos com crianças e jovens, para se aproximar a eventuais vítimas. É esse o desígnio do predador, aproximar-se o mais possível da vítima passando o mais despercebido possível.
No seio da Igreja, a maioria dos seus intervenientes são pessoas decentes, de bem, que estão ao serviço dos outros. Não é pelo facto de haver predadores que se infiltram nestas estruturas que se deve colocar em causa a instituição, pois um predador já o era antes de fazer parte destas estruturas. E essa é uma diferença que não pode ser esquecida, sob pena de se cometerem ainda mais injustiças, agora também contra todos aqueles homens e mulheres que dedicam a sua vida a servir uma causa e os outros.
O próprio silêncio, em muitos casos, terá acontecido não para proteção do prevaricador mas pelo receio de toda a sociedade condenar a instituição Igreja, como um todo, confundindo o joio com o trigo.

Parece que a Galp também tem barragens

Uma notícia que quase passou despercebido na espuma dos dias desta semana foi o facto de a Galp ter quase duplicado os lucros em 2022, ano em que os combustíveis, em Portugal, atingiram valores nunca vistos, o que contribuiu para a inflação galopante que afeta todos sem exceção (a uns com mais impacto do que a outros).
Se a desculpa para o brutal aumento dos preços era, sistematicamente, “o preço do barril de crude nos mercados internacionais”, a publicação destes resultados deixa claro que, na verdade, a razão para os combustíveis terem ultrapassado os dois euros por litro era precisamente o aumento dos lucros que os acionistas pretendiam.
A Galp até parece uma daquelas elétricas que esmifram os recursos do Nordeste Transmontano mas depois insistem em todo o tipo de manobras para não pagar os impostos devidos.
Até quando vamos permitir a estas empresas transferirem os parcos recursos que a generalidade dos cidadãos luta por ter para os seus bolsos fundos?

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