A opinião de ...

Pensar o país não é isto

Terminou recentemente um curso para formação de agentes da Polícia de Segurança Pública, o 16.º, no qual se formaram 744 novos agentes. Destes, 15 por cento são do género feminino.
De acordo com a informação do Ministério da Administração Interna, os 744 novos agentes que terminaram o curso têm idades compreendidas entre os 20 e 31 anos, com o grau de escolaridade mínimo correspondente ao 12.º ano ou formação equivalente, ingressando agora na carreira de Agentes da PSP, iniciando um período experimental de um ano.
Portanto, poder-se-ia pensar que a nova fornada de agentes seria distribuída pelo país, de forma a colmatar as necessidades de policiamento em todo o território nacional.
Todo? Não. Parece que apenas uma grande aldeia, à beira mar, precisa de resistir ainda e sempre à criminalidade, qual estoico povoado gaulês a resistir ainda e sempre ao invasor (na descrição de Goscinny e Uderzo da aldeia de Asterix).
É que todos os novos agentes foram distribuídos pela Grande Lisboa. No entender de quem manda, só lá é que é preciso incutir sangue novo nas forças de segurança.
Para o Comando de Bragança virá um punhado de homens, já perto da idade da reforma (sem desmerecimento para estes profissionais).
Enquanto isso, o mesmo Estado que criou uma Secretaria de Estado de Valorização do Interior, manda fixar na capital 744 jovens, que irão estabelecer-se, constituir família, comprar as suas casas, ter os seus filhos, matriculados nas atulhadas escolas da capital, quando muitos deles até são oriundos do Norte do país (Trás-os-Montes incluídos).
É assim que se pugna pela valorização do território, pela equitativa distribuição e aproveitamento de recursos, proporcionando a todos os cidadãos de todo o território igual direito de acesso à segurança (ler em tom irónico).
Para além de que, mesmo para estes agentes, em início de carreira e com salário proporcional ao início de carreira, é bem mais difícil fazer esticar o ordenado até final do mês numa região como Lisboa, com o custo de vida mais caro do país, do que em qualquer outra parte do território, como Bragança ou Mirandela, por exemplo.
De acordo ainda com o Ministério, um dos mais importantes em termos de intervenção no território nacional pelas competências que tem associadas, como a proteção civil, ainda em 2021 se iniciará o 17.º Curso de Formação de Agentes, com mais de mil novos alunos. A ver vamos aonde irão parar estes agentes...

A proposta de Orçamento de Estado aí está para dominar as discussões das próximas semanas até à previsível aprovação no final do mês. Com mais ou menos ‘soudbites’ dos partidos, nenhum quererá ficar colado à criação de uma crise institucional que leve o país a novas eleições legislativas antes de tempo e a António Costa ao papel de vítima, pois quem o fizer sujeita-se a ser penalizado nas urnas.
Desta vez não houve nenhum coelho a sair da cartola, com os contribuintes a receberem fatias de chouriço em troca das varas de porcos que continuam a dar para engordar a máquina.
“A desigualdade social e a degradação ambiental andam de mãos dadas e têm a mesma raiz: a do pecado de querer possuir e dominar os irmãos e irmãs, a natureza e o próprio Deus. Mas este não é o desígnio da criação”, lembrava o Papa Francisco, em agosto de 2020.

À atenção de quem faz os orçamentos do Estado.

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