A opinião de ...

Final da Liga dos Campeões: venderam-nos por meia dúzia de grades de cerveja

Reza a história que, lá bem nos antanhos da humanidade, quando sobrava de ambição o que faltava de vergonha e de dignidade, se vendia a própria progenitura, nem que fosse por um mísero prato de lentilhas.
Verdade ou ficção, o certo é que, decorridos muitos milhares de anos, o relacionamento entre os povos e as pessoas continua submetido aos fins mais inimagináveis, desde que serviam os interesses dos seus promotores, sejam eles políticos, confessionais, económicos, coletivos, individuais, empresarias, culturais ou desportivos.
Pelo impacto na vida das pessoas, pelas polémicas e pelas paixões que desperta, bem como pelas verbas astronómicas que o futebol movimenta, a confusão gerada na cidade do Porto com a final da liga dos campeões , que chamou sobre a cidade, e um pouco sobre todo o país, as atenções de quase meio mundo, merece uma reflecção muito atenta de todos os agentes envolvidos na organização.
Mesmo sendo verdade que este evento teve aspetos positivos, é indispensável ter a coragem, a honestidade e a lucidez suficientes para por dedo na ferida, e reconhecer que, por amadorismo, impreparação, incompetência, vaidade e jactância, os seus organizadores, foram os únicos e grandes responsáveis pelo perigoso e lamentável fiasco em que transformaram o que devia ter sido a festa do futebol. Mas não. Resolveram inventar, acabando tudo naquele miserável espetáculo, tão perigoso como degradante, oferecido ao mundo inteiro.
Resta agora que se tirem as devidas ilações e que cada um assuma as suas responsabilidades, para que, como de costume, não fique tudo “em águas de bacalhau”, reduzido a mais “um rigoroso inquérito” e que, se não der para mais nada, pelo menos, que sirva para obrigar o governo e a autarquia a explicar ao país as razões porque:
- A comunicação falhou fragorosamente em todos os sentidos;
- A própria ministra da presidência veio pessoalmente às televisões passar a ideia peregrina de que a presença de todos aqueles fanáticos ingleses não representaria qualquer perigo para a saúde pública porque, disse ela, que, como inocentes e meigos cordeirinhos mansos , que só bebem a água límpida das montanhas, seriam metidos numa bolha milagrosa, segura como uma redoma de altar, à prova de todo o convívio social e capaz de nos proteger de qualquer contacto com toda aquela gente;
- Venderam a nossa dignidade como povo a troco de grades de cerveja;
- Se puseram de cócoras diante dos súbditos de sua majestade a troco dos lucros de meia dúzia de negócios de ocasião;
- Se rebaixaram a troco de dormidas em quartos de segunda ou de terceira linha de um qualquer hostel da cidade;
- Nos obrigaram a gramar com aquelas hordas de bêbados e de arruaceiros que, ostensivamente desrespeitaram todas as normas de prevenção impostas, e bem, a todo o país, pela DGS, como a utilização da máscara, o respeito pelo distanciamento e a higienização das mãos;
- Tantos responsáveis se demitiram da sua obrigação de manter a ordem pública, proteger as pessoas e gerir a entrada no país de toda aquela gente;

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