A opinião de ...

Poder e Democracia, uma potencial mistura corrosiva!

Confrontado com a quantidade extraordinária de acontecimentos recentes, cada qual o mais importante, resolvi adiar a publicação da segunda “BATALHA NAVAL” e, dando folga aos marinheiros e descanso à armada refletir sobre conceitos tão simples quanto atuais, como o poder, o desgaste do poder e o poder do desgaste na governação, a corrupção e a democracia.
Muito mais que mera e infundada afirmação retórica, ou pouco provável hipótese, é um dado adquirido e confirmado por milénios de história, que o poder desgasta e corrompe, fenómeno já identificado pelos romanos há séculos e descrito com apenas três simples palavras, dizendo que “Corruptio optimi péssima ”, (A corrupção do ótimo é péssima).
Aceitando à partida que uma democracia moderna e consolidada como a nossa, deveria estar imunizada contra qualquer percalço, porque as leis são feitas por homens e para homens e nenhum regime de poder é perfeito, sem que isso seja desculpa para tudo, o certo é que, quando menos seria de esperar, as situações mais improváveis acontecem sem se fazerem anunciar, cabendo a todos a obrigação de fazer delas a necessária e correta análise, extrair as devidas conclusões, assumindo disso todas as devidas consequências.
É dentro destes pressupostos que, objetivamente, tem de ser enquadrada e analisada a vergonhosa e condenável atitude que o Sr. Primeiro Ministro Doutor António Costa teve no Parlamento para com o deputado do PSD dr. Coelho Lima ao qual, quando no exercício das suas funções de parlamentar eleito pelo povo português, na discussão em curso a proposta de orçamento para o ano de 2022, com toda a correção que o lugar exige o interpelou sobre a utilização da “bazuca” como bandeira partidária na recente campanha para as eleições autárquicas, duma forma desabrida, e com tiques mal disfarçados de senhor absoluto do saber do poder e da verdade, sinais indisfarçáveis de cansaço e desgaste, respondeu grosseiramente:
“O senhor não me conhece de lado nenhum e, portanto, eu não lhe autorizo fazer nenhum juízo moral sobre o meu comportamento, como eu não faço do seu.
Há uma coisa(?) que o senhor tinha a obrigação de saber antes de abrir a boca aqui na Assembleia da República….”.
De acordo, Sr. Primeiro ministro, mas não esqueça, em função do lugar que ocupa, há muitas coisas que também tem a obrigação de saber e praticar, tão simples como:
- Ter grande capacidade de encaixe, de domínio e auto controle das próprias emoções, à prova de todas as provocações ;
- Abordar os assuntos, mesmo os mais incómodos com a dignidade, elevação e classe exigíveis a uma das mais altas figuras do estado, evitando a todo o custo descer ao nível dum qualquer “mercado” de rua.
- Ouvir e respeitar os outros e a si próprio, evitando a demagogia fácil e a charlatanice barata de vender sonhos e quimeras;
- Como tudo nesta vida, o poder é efémero, a continuar assim, corre sérios riscos de que, talvez até quando mais precisasse, já não haver “tapa equívocos“ que lhe valha.
- Perante tantas testemunhas, um pouquinho mais de classe custava pouco e não lhe ficaria nada mal.

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