Algo errado não bate certo
Têm sido francamente maus os tempos vividos atualmente na política e em outros quadrantes da sociedade em Portugal, pressagiando um 2025 difícil e desafiante.
Esta conclusão assenta em vários episódios amplamente conhecidos e discutidos, entre os quais o de alguém, que já esteve na Assembleia da República, no Governo e agora é eurodeputada, referir que “não sabe o que é isso dos valores nacionais”!
Isto na sequência e a propósito de alteração de tomada de posição do líder do seu partido em relação ao pedido “manifestação de interesse” para obter uma autorização de residência por parte de imigrantes, e à defesa de que os mesmos, “terão de se adaptar à cultura” portuguesa.
No contexto em que estamos a pensar nas melhores formas de como se pode e deve construir o bem comum em Portugal e na Europa e na melhor relação dos portugueses com os imigrantes, estas palavras não ajudam nada.
É admissível a divergência de opinião, etc, mas deve haver bases essenciais para qualquer tomada de posição, até para combater exatamente o preconceito, a xenofobia e o racismo.
Por isso, sendo Portugal e a Europa, espaço de acolhimento de muitas pessoas que vem de fora do seu espaço identitário e territorial, é importante, a par da experiência de hospitalidade, haver lugar para novas aprendizagens por parte dos imigrantes que querem ser portugueses. Para seu bem e bem de todos.
Aprendizagens, desde logo, do que significa ser português e do orgulho que isso representa, dos valores inerentes e fundados no respeito pela dignidade da pessoa, como são a fraternidade, a liberdade, a igualdade e a solidariedade.
Não é este o enquadramento da expressão existencial transmontana e alto-duriense e dir-se-ia nacional “entre quem é”?
Depois, do que se constitui como nosso bom exemplo de juntar, sem aniquilar, e articular tradições culturais diferentes, dando vida a um humanismo muito próprio, de convivência, de descoberta da reciprocidade e do enriquecimento mútuo.
Nesta medida, pode dizer-se que estes são os valores nacionais portugueses, do nosso Povo, ao longo de séculos, que fazendo uso da língua, da história, da educação, da arte, da cultura, do património, da inovação, das tradições, das leis e até dos princípios que nos definem e que nos orgulham, servem exemplarmente para integrar a todos na nossa sociedade.
Ignorar estes pilares, estes valores dos portugueses e de Portugal, é desconsiderar aquilo que nos une, que nos dá chão, que nos orienta, nos dá presente e nos pode dar futuro. Para todos os que quiserem.
Assim, quem representa o país deveria ser o primeiro a reconhecê-lo e a defendê-lo. Até porque, supostamente, onde está, está para representar o Povo português onde se incluem os eleitores do seu partido que penso que a grande maioria não se reveja nas suas palavras.
Vêm aí eleições. Várias. Autárquicas, depois presidenciais e com toda a certeza, mais proximamente que no tempo certo, as legislativas.
As pessoas, as suas ideias e propostas, ganham ou perdem prestígio e adesão pelo que fazem nas instituições onde estão e pelo que fazem e dizem enquanto líderes e representantes políticos.