A opinião de ...

Das Rainhas Magas

Embalado pelas belas e significativas palavras do Papa Francisco, quando referiu, no pretérito dia primeiro do ano e como sempre faz quando tem a oportunidade para tal, realçando o papel singular e fulcral da Mulher, “Deus, que tomou duma mulher a humanidade”, ocorreu perguntar-me o que teria sucedido se, em lugar dos três Reis Magos, tivessem sido três Rainhas Magas?
A pergunta, que efetivamente não é nova pois já efetuada por outras pessoas e instâncias, foi dando inclusivamente origem a alguns textos e até peças de teatro onde aparecem, de forma criativa, como esposas dos Reis Magos, ou então, jocosamente, para glosar o distinto funcionamento de homens e mulheres em alguns assuntos...
No entanto, para a sua resposta, primeiramente, é de sublinhar que imergindo no precioso e sucinto relato dos sábios do Oriente, se pode notar que não se fala de Reis (mas sim de Magos), nem se diz que são três nem tão pouco em algum momento são mencionados os seus nomes!
Efetivamente, a descrição dos três Reis Magos provém de um códice do século XV do monge beneditino de seu nome Beda.
Depois, relativamente às ofertas, o ouro, o incenso e a mirra, como sabemos, foi-lhes atribuído um significado simbólico. A mirra, substância muito valorizada na antiguidade para a elaboração de perfumes, símbolo de Jesus como Homem, é entregue por Melchior, apresentado como ancião de brancos cabelos e de barba comprida, procedente da Europa. O incenso, resinas aromáticas vegetais que ao arder exalam um fumo e um cheiro caraterísticos, símbolo de Jesus como Deus, é entregue por Gaspar, retratado como o mais jovem, ruivo e procedente da Ásia. O ouro, metal precioso, símbolo de Jesus como Rei, é entregue por Baltasar, oriundo de Africa.
Aqui chegados, neste processo de idealização, poder-se-ia dizer, logo para começar, que ao contrário dos Magos, como mulheres, que tantas vezes são as grandes estrelas invisíveis do mundo, não iriam ter com Herodes nem chamariam os soldados deste pois saberiam a quem deveriam ou não indagar.
Depois, ter-se-iam apresentado algum tempo antes do parto pois ninguém como as mulheres pressentem quando os grandes acontecimentos estão para acontecer pois fariam uso do seu chamado sexto sentido ou então da sua maior afinidade com os anjos!
Uma vez com os Pais, além de uma palavra apropriada e cordial, ajudariam a mãe no parto, cuidando do menino a nascer e, não deixando de enfatizar o momento especial, realçariam com a sua elevada sensibilidade o que ali estava a ocorrer de transcendente para a humanidade.
Depois, nessa noite densa e fria, tornariam acolhedor o momento e o espaço de adoração do Menino, organizando o convívio e a festa de modo que na terra dos homens divididos brilhasse essa luz intensa que a todos envolvesse. Os idiomas, as proveniências, os estatutos, enfim, as separações, quaisquer que fossem as suas causas, calar-se-iam e unir-se-iam ante tão significativo nascimento.
Por fim, acredito que jamais se lembrariam de oferecer ouro, incenso e mirra, pois não haveria nada para comprar, o cheiro a incenso poderia incomodar o Menino e a mirra não faria muito sentido ser usada ali. Talvez oferecessem antes uma mantinha, fofa e bonita, um berço, seguro e confortável, e um copo, decorado e bonito.
Mas enfim, o mais importante, não deixariam de evidenciar, então como os Reis Magos, que todos somos chamados ao essencial que vai muito para além dos bens materiais: ser presentes uns para os outros, sendo ou fazendo o que pudermos de bem uns pelos outros.

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