A opinião de ...

A nova AD

Antes da sua constituição, em 1979, Francisco Sá Carneiro fez um périplo pelo país, tendo visitado o nordeste no último fim de semana do tépido agosto de 1978. O concorrido comício aconteceu em Mirandela de onde guardo memória da intervenção inflamada e bairrista do então deputado Eleutério Alves seguido da calma determinada do líder do PPD. Estava a lançar à terra as sementes da coligação que, no ano seguinte, haveria de ser fundada. Ao jantar, no Maria Rita, em Jerusalém do Romeu, Sá Carneiro explicou, aos que partilharam a mesa principal com ele, como o Dr. Ribeiro de Moncorvo, de quem era amigo, os detalhes e pressupostos que justificavam o caminho, já iniciado. O líder social-democrata tinha já o sonho que, pouco tempo depois tornou público, de protagonizar um movimento que culminasse num Governo, numa Maioria, num Presidente. Para o concretizar era necessário assumir uma rutura com o país pós-PREC, ainda dominado pelos partidos de esquerda, pelo movimento estatizante do “caminho para o socialismo” consagrado na Constituição e vigiado de perto pelos militares do Conselho da Revolução.
Vivíamos um período de instabilidade governativa, (Mário Soares, ganhador das eleições de 1976 estava de saída, do segundo governo, para dar lugar a Nobre da Costa que haveria de ser substituído, pouco tempo depois, por Mota Pinto), a maioria de esquerda estava dividida por uma linha vermelha traçada pelo PS, na Fonte Luminosa enquanto a economia definhava, a inflação galopava e o desemprego crescia. A AD era um projeto afirmativo de crescimento e credibilização do centro-direita. A aliança com o CDS, o PPM e os Renovadores acrescentava à soma efetiva dos votos o benefício dos mandatos “oferecidos” pelo método de Hondt.
Outro é o cenário desta nova AD. Chegamos aqui num cenário de estabilidade parlamentar, a economia com bom desempenho, o desemprego e a inflação com valores baixos. Obviamente que não é o paraíso e, igualmente, é verdade que algumas das reivindicações públicas já tiveram dias bem melhores. Os salários não estão a acompanhar o desenvolvimento económico, os serviços públicos de saúde atravessam um período de grande carência de recursos, a crise na educação prolonga-se, em crescendo, as forças de segurança estão na rua, em protesto, faltam casas cujos preços de compra ou aluguer se alcandoraram em níveis difíceis de alcançar, sobretudo pelos jovens que entram no mercado de trabalho. Já não há qualquer linha vermelha à esquerda. O “cordão sanitário” mudou-se para a direita onde, ao contrário dos anos setenta, a força que se situa para lá dele está em crescendo. Finalmente, para completar o cenário de espelho, a “adição” das forças políticas que, de novo se reuniram para ressuscitar a antiga AD, se traduza num reforço de mandatos e não na sua diminuição o que, a olhar para o que as (falíveis, é sabido) sondagens, não é um dado adquirido. Montenegro cumpre os mínimos mas não tem a capacidade de galvanizar os apoiantes e outros ouvintes como o homem que, falando sempre de improviso, tinha uma dimensão intelectual e política inversamente proporcional à sua constituição física.
As legislativas disputam-se em círculos eleitorais.
Em Bragança, a AD tem um bom cabeça de lista. É vital, para o seu bom desempenho, que, quem o acompanha, congregue e não afaste

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