A opinião de ...

PALMINHAS (Muito poucas e pequeninas)

Quando tive conhecimento do apoio que a Câmara de Moncorvo anunciou para o comércio local, apressei-me a aplaudir. É verdade que no final deixei um recado menos laudatório mas isso é perfeitamente normal e positivo. Toda a gente sabe que as críticas sérias, verdadeiras e fundamentadas dão um contributo muito grande para a melhoria do exercício do poder, muito superior e mais benéfico do que os aplausos acríticos e instintivos dos lambe-botas e apoiantes, ditos, incondicionais. Não é o meu caso mas, perante uma iniciativa louvável, entendi enaltecê-la, de imediato, com base na informação preliminar fornecida. Devia ter esperado.
Dizia o anúncio inicial que o apoio ficava limitado a 100 euros por família. Tendo Moncorvo 8 600 habitantes com uma composição de 2,2 pessoas por família isto traduz-se em 3.900 famílias e um orçamento total de 390 mil euros. Seria razoável esperar um custo total a rondar os 300 mil euros.
Para grande espanto meu, o mesmo jornal, que publicava a minha crónica, anunciava que a Câmara moncorvense reservara APENAS um décimo disso para esta acção. TRINTA MIL EUROS! Tinha de haver um erro. Mas, infelizmente, confirmei o valor. É esse e nada mais!
Trinta mil euros é consideravelmente menos que o que o município pagou para ver a volta a Portugal a partir do território concelhio.
Trinta mil euros é muito inferior ao valor gasto, nos anos anteriores, com a organização externa da Festa de Natal e que este ano, ninguém sabe se se poderá fazer.
Trinta mil euros é menos de metade do que o município gastou para adotar, como marca concelhia, um “M” desconforme a ser atacado por um avião militar, estilizado.
Trinta mil euros é menos de um quarto do que os cofres concelhios dispenderam, só em ajustes diretos, com os animadores da Feira Medieval em 2019 e que, este ano, nem se realizou!
Trinta mil euros é um quinto do custo do aconselhamento jurídico genérico que o Presidente da Câmara contratou por ajuste direto a um gabinete de brilhantes juristas lisboetas.
Trinta mil euros é um centésimo do absurdo custo, orçado em três milhões, segundo o Presidente da Câmara, que haveria (espero que o bom senso não o permita) de ser gasto na construção de uma ponte estúpida e inútil, com o objetivo de, pasme-se, atrair para o concelho, turismo de qualidade e gerador de mais-valias!
Imagine o leitor que pertence a uma família que, apesar de viver bem, este ano, por causa da pandemia, estava condicionada e com restrições para a ceia de Natal. Suponha agora que, quando todos estivessem sentados, à espera do repasto comunitário, a governanta colocava na mesa, para ser repartido, entre todos, um mísero coelho... sabendo toda a gente que, no escano da cozinha, onde ela iria depois de cear, tinha acabado de ser trinchado um suculento leitão, gordo e bem tostado.
Presuma agora que, perante o olhar tristonho e desiludido dos comensais a mesma governanta informa toda a família que, lá fora, no terreiro, irá ser montado um espeto para nele ser devidamente assado um anafado vitelo, bem regado e acompanhado, para ser servido a todos quantos quiserem visitar o logradouro da casa!

Edição
3810

Assinaturas MDB