A opinião de ...

QUE SE LIXE

Quando em Julho de 2012 Pedro Passos Coelho reiterava perante os deputados social-democratas  que as vitórias eleitorais seriam sempre uma meta secundária perante o verdadeiro objetivo principal: o país que tinha de ser salvo quer do atoleiro em que se encontrava na altra, quer do garrote sufocante que a troica lhe aplicava implacávelmente, muita gente viu nessa afirmação, mero marketing político.  Outros acreditaram piamente na genuinidade e sinceridade de tal confidência, por razões várias e entendíveis mas que não vale a pena estar aqui a enumerar e muito menos escalpelizar. Eu, como muitíssimos outros, alguns deles meus conhecidos e amigos, perante tal proclamação, dei-lhe o benefício da dúvida. A forma corajosa e frontal com que partilhava, à data, as dificuldades e as agruras do caminho que o país trilhava nessa altra, eram créditos a seu favor. A forma como chegara ao poder e a presença paternal de Miguel Relvas, na mesma sala bem como a sua concordância  com a inesperada declaração, aconselhavam prudência e agitavam o véu da dúvida.
 
É compreensível e humano que Passos Coelho e Paulo Portas se sintam descontentes e muito desconfortados com os acontecimentos que se seguiram às últimas eleições legislativas. Depois de vários anos a tentarem digerir e encaixar uma derrota eleitoral (a frase atrás referida aparece exatamente nesse contexto), quando na reta final da legislatura lhes surgiu, quase inesperada uma luzinha ao fundo do túnel. Que se alargou e ganhou brilho mesmo que não lhes ocupasse a totalidade do horizonte. O lugar que tinham como certo e que se preparavam por tomar acabou por ser ocupado por outros que, unidos, obtiveram argumentos sueriores aos da anterior maioria. Apesar de terem ficado em primeiro, os mandatos obtidos são em número inferior aos dos restantes que se lhes opõem. As placas que formam a nova coligçãp são feitas de matéria muito diversa e com diferentes coeficientes de elasticidade. O cimento que as liga é frágil. É natural, portanto que surjam brechas nas uniões mais fracas. Também é natural que essas fraquezas sejam encaradas como oportunidades que lhes virão trazer de novo as vantagens perdidas nas última eleições. O que não é natural é que o objetivo principal de um grupo de homens de estado e deputados eleitos que há bem pouco se preparavam para conduzir os destinos da nação em nome do povo e, garantidamente, com o bem comum como única etiqueta.
 
Se a expressão “que se lixem as eleições” fosse genuína e um verdadeiro mote de conduta esta seria, sem dúvida, a melhor forma de o provar. Mostrando que mais importante que ganhar eleições é ser parte de um contributo sério de promoção do desenvolvimento das instituições públicas e bem estar dos cidadãos. Espero sinceramente que os últimos episódios conhecidos na Assembleia da República sejam meros afloramentos passageiros de despeito perante as agruras recentes. E que seja rapidamente tomado em mãos a conduta que proteja os interesses nacionais, acima de todos os outros.
 
Se assim não for, suspeitando eu que quem assim atua não terá a coragem e a determinação de se demitir e dar o lugar a outros que invertam a deplorável conduta, só me resta fazer um apelo: Enquanto tal período negro durar seja retirado de todas as sedes e delegações partidárias a fotografia de Farncisco Sá Carneiro, político que enunciou e demonstrou sempre ter colocado o interesse de Portugal e dos portugueses à frente dos seus interesse pessoais e dos do partido que fundou!  

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