A opinião de ...

Dérbis com urbanidade!

No que ao desporto diz respeito, sobretudo no domínio do futebol, falar de um dérbi é potenciar o interesse relativo a uma partida de futebol entre duas equipas, que representam dois clubes da mesma área geográfica, portanto vizinhas, e que disputam a mesma prova. Independentemente do valor de cada uma e do lugar que ocupam no respectivo campeonato, um dérbi tem sempre uma motivação acrescida, até porque se torna mais difícil adivinhar quem vai ganhar.
 
Habitualmente os dérbis contam com mais espectadores nos estádios, pois os jogos assumem uma identidade diferente e uma postura mais atenta da gente que os sustenta.
 
Não obstante os tempos terem mudado e parecer existir, teoricamente, mais urbanidade nos adeptos em geral e nos dirigentes em particular, para já não falar dos protagonistas do próprio espetáculo, a verdade é que ainda se assiste, muitas vezes, a comportamentos que desvirtuam, por completo, o espírito e a filosofia que devem imperar nos ambientes que envolvem os dérbis desportivos.
 
Em primeiro lugar porque se trata de encontros entre vizinhos, pelo que a relação deve ser positiva, num contexto de respeito mútuo, tendo em conta a individualidade, especificidade e capacidade de um. Em segundo lugar porque, como vizinhos, com problemas idênticos, nomeadamente quando se trata de clubes do interior, particularmente do Nordeste Transmontano, devem promover o espírito de entreajuda e valorização de recursos, tendo em conta as adversidades e desigualdades em relação aos clubes do litoral. Há ainda a ter em conta que, nestes eventos interativos de vizinhança, a maior parte dos adeptos/espectadores acabam por ter uma relação pessoal, social e profissional que deve ser valorizada num contexto de interesse e bem-estar coletivo, que se deve desenvolver para tornar uma comunidade mais ativa, coesa, dinâmica e desenvolvida.
 
Os problemas, conflitos entre pessoas, ou clubes, quando existirem, devem ser resolvidos civilizadamente e nunca inflamados, desadequada e deslealmente, porquanto resolver um desentendimento, uma incompreensão, é essencial para favorecer entendimentos, validar amizades, adotando uma postura de cortesia, respeito e entendimento do “outro”, alicerçando as relações em projecções ou transferências positivas, efetiva e afetivamente arejadas, bem como socialmente valorizadas.
 
Percebo que os dérbis suscitam um particular entusiasmo e maior vontade de triunfar. Mas porque queremos tanto ganhar, colocar-nos à frente do nosso vizinho, que nos pode e deve ser útil, se precisarmos, e não temos a mesma postura em relação aos opositores que são de longe e, tantas vezes, nos oprimem de forma pouco leal, porque exercem mais influência que nos prejudica, principalmente quando estão mais perto do poder central? É bom que pensemos estes assuntos de forma clarividente, positiva e encorajadora, animando-nos, alegremente, para discutir e assistir aos dérbis futebolísticos civilizadamente.
 
 Quero acreditar que, também fruto da formação ao nível desportivo e de cidadania, já estarão ultrapassadas as rivalidades e bairrismos doentios de outrora, que se tornavam potenciadores de comportamentos incorretos, censuravelmente agressivos e desonestos, sobretudo quando se assistia a cenas reveladoras de falta de assertividade, ao nível da urbanidade e do desportivismo.
 
Em pleno século XXI, é importante que os espetáculos e dérbis desportivos potenciem a união, fortaleçam os laços de amizade e solidariedade e sustentem transversalmente a urbanidade.

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3541

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