A opinião de ...

Por causa de um cão?!...

A vida é mesmo assim!...Não imaginara, na semana passada, quando me propus escrever sobre a “Vida de Cão”, que voltaria a este tema relacionado com o fiel animal doméstico, tão depressa. Longe disso, sobretudo pelas razões que se conhecem. Ou seja, por aquelas que foram mediaticamente divulgadas e que, alegadamente, terão estado na origem do tão trágico desfecho, de que resultaram três vítimas mortais, na Quinta do Conde, em Sesimbra. Não sei quais as motivações, mas percebi que a mediatização descarregou, simplesmente, num pobre cão. Percebo que há cães violentos e perigosos, mas também não é menos verdade que há seres humanos, desprovidos de valores, invejosos, intratáveis, letalmente raivosos…imperfeitos!... Diria que, em termos de agressividade, se tornam, ainda, mais selvagens que cães, procurando, das formas mais escabrosas, infernizar a vida deles e a dos outros.
Embora tenha conhecimento de quezílias diversas, que potenciam crimes de vária natureza, mesmo homicídios, alegadamente por causa de um cão, custa-me a acreditar que, num mundo onde valores humanos e o respeito sagrado pela vida, seja violentado e comprometido por causa de um animal de estimação. A vida não tem valor material quantificável, sendo o emocional e afetivo, inqualificável. Por isso, jamais o ser humano poderá justificar qualquer razão suficiente para decidir e ter poder sobre a vida de um seu semelhante, seja em que circunstância for. A vida é DIVINA, SUPREMA e só QUEM nos deu a VIDA nos pode fazer PARTIR.
E se, tantas vezes, nos interrogamos sobre o comportamento animal, irracional, como podemos admitir que o homem, como ser racional, protagonize tantos comportamentos errados, distorcidos dos valores mais elementares da vida e da relação com o “outro”, que também se reflete em si próprio?!...
Porque se torna tão difícil gerir o pensamento e as emoções, não ter discernimento, nem manter a serenidade suficiente para, nos momentos difíceis, aceitar a adversidade, acalmar a cólera, que, tantas vezes, nós próprios criamos e sustentamos, sem disso nos apercebermos?! …
Pena que passemos tantos momentos da vida a pensar, inutilmente, mal dos outros, vendo até neles o nosso próprio mal, sem que consigamos parar, refletir, com profundidade, a nossa forma de ser e estar, com nosso interior, arejando-o positivamente. No fundo, acabamos por promover inutilidades de forma concorrida, que nos limitam e inibem a serenidade e a alegria em que devemos sustentar a VIDA!... Colocámos, até, os nossos pensamentos negativos, contra nós, ficando incapacitados de nos distanciar-nos deles, quando, afinal, nos fazem tanto mal. Não só a nós, mas também a quem connosco convive e partilha a vida.
Não quero acreditar, como não acredito mesmo, que um cão, fiel e domesticado, possa ser evocado como causador de perversidade humana, como potenciador dos rancores, da violência extrema e do próprio pecado impregnado, emergindo num contexto de toxicidade permanente.
E, se lamento os mais variados casos de violência humana, na circunstância fico ainda mais chocado, porquanto se tratou de vítimas oriundas da nossa região, de famílias amigas, que daqui saíram para ganhar a vida, para cada dia o seu pão. Aproveito, pois, para apresentar aos familiares enlutados os meus sentidos pêsames.

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3540

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