A opinião de ...

Sociedade e distopia I

1. Estamos perante uma guerra, cujos contornos e natureza não me atrevo a qualificar. Servindo-me de repórteres no terreno, de comentadores com conhecimentos sobre guerra, designadamente militares, estarei tentado a afirmar simplesmente que há uma invasão de um país por outro, por razões da chamada “geoestratégia política” – tese de que me confesso adversário. O grande jornalista Ferreira Fernandes escreveu o seguinte no jornal on-line ‘Mensagem de Lisboa’, e isto me basta, conhecedor que fui do que é uma guerra: «Os governantes da Rússia, nesta história [guerra da Ucrânia], não merecem ser nem a parte má de uma equação. Merecem, tão-só, que se saiba o que eles cometeram: o começo da guerra. Sabendo nós que eles sabiam o que faziam. Guerra começada, começou o que era de prever. Guerra é sobre matar pessoas, civis e soldados».
2. Infelizmente, há mais guerras além desta, onde se verificam fugas e refugiados aos milhões. Segundo o relatório da ACNUR (Agência da ONU para os Refugiados), do primeiro semestre de 2021, havia, àquela data, mais de 20 milhões de refugiados, 4,4 milhões de requerentes de asilo e mais de 50 milhões de deslocados dentro dos seus próprios países: Afeganistão, República Democrática do Congo, Etiópia, Moçambique, Mianmar, Sudão do Sul e países da região do Sahel, entre outros locais, por razões diversas: calamidades climáticas, guerras, terrorismo. Acrescenta este relatório que dois terços dos refugiados têm origem somente em quatro países: Síria (6,7 milhões), Afeganistão (2,6 milhões), Sudão do Sul (2,2 milhões) e Myanmar (1,1 milhões), além de quase 4,5 milhões de venezuelanos que, não sendo refugiados, fugiram do seu país devido à instabilidade política e económica. Acrescem, agora, os milhões de refugiados ucranianos.
3. São recentes as guerras do Afeganistão, a guerra civil do Chade, do Darfur, do Iraque, do Líbano – para dar alguns exemplos. Na primeira metade do século XX, a guerra que opõe Israel aos seus vizinhos árabes. Mais atrás, mas ainda próxima, a Segunda Guerra Mundial, em que morreram mais de 80 milhões de pessoas militares e civis. Estão bem identificados os autores destas beligerâncias e os seus interesses. Dizem-me: sempre houve guerras…Mas qual é o argumento? Bem sei: o homem é naturalmente ambicioso, dirão alguns: mau.
4. Estas situações são horrivelmente dolorosas. A juntar às guerras, a fome e a doença. Em muitos casos, verificamos uma notável solidariedade humana das sociedades desenvolvidas, noutros, a indiferença, que se vai acentuando - situações enquadráveis no que os autores designam por “distopias”.
5. Existe distopia quando há países ou regiões onde se sofre o flagelo, o desespero, a miséria, a fome, a doença. São países ou regiões onde as pessoas não querem viver e, por isso demandam outras paragens, carregadas de esperança, enquanto os senhores da guerra atiram a matar e os dirigentes dos países desenvolvidos pouco fazem para minorar o sofrimento. O que carateriza uma distopia é a falta de liberdade, a baixa qualidade de vida, as condições ambientais adversas, portanto o medo de morrer.
(Continua).

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