A opinião de ...

São Bartolomeu de Bragança Do Miradouro, das vinhas e das adegas particulares

O clássico “Guia de Portugal” [1924 a 1969], de Rui Proença, com os melhores escritores do seu tempo, descreve: “nas cercanias de Bragança o Miradouro de São Bartolomeu, ponto de visão panorâmica admirável, situado a 830 metros de altitude, no cabeço deste mesmo nome, sobranceiro, à cidade e ao vale acotovelado e fundo do Fervença, é acessível pela chamada estrada do circuito […]. De noite principalmente, a contemplação do casario urbano, salpicado de lumes, encanta os olhos de quem tiver a boa ideia de fazer essa subida. São Bartolomeu situa-se um pouco mais além, no extremo do promontório, de planos íngremes, revestidos de vinhedos”, conforme Santana Dionísio.
O Miradouro foi concluído em 1947. Pequena e caraterística estrutura em cimento armado, oferecida por dois empresários e, um funcionário público, segundo Manuel António Pires, “caixeiro de toda a vida na casa comercial Coelhos”, na Praça da Sé. Continua ele: “o Miradouro do São Bartolomeu foi o Armando Vergueiro, o Júlio Coelho e, o Chefe da Secretaria do Liceu, o Ribon”, que o mandaram fazer!”
Ernesto Vaz, Arqueólogo, natural de Samil, informou-me que “as vinhas do Cabeço, até as da encosta virada a norte, de caras para a fria Serra da Sanábria, mais expostas às inclemências dos invernos rigorosos, eram inéditas pela produção, como acontecia com a vinha do Dr. Saldanha, junto ao escadario e, de muitas outras. Talvez a necessidade de fornecer os aquartelamentos de Infantaria 10 e, o Batalhão de Caçadores 3”, bem como o corpo da Guarda Republicana, da Guarda Fiscal e, da Polícia de Segurança Pública sediados em Bragança, “justifiquem o facto. Também, nos meados do século XX, em Bragança o consumo da cerveja era muito menor que o do vinho, por isso este último produto tinha ampla produção local”, referiu o Arqueól. Ernesto.
Manuel Cardoso, entre múltiplas facetas, editor de gastronomia, forneceu-me muito amavelmente, cópia publicações que originaram esta nota, duas delas de 1866 e 1870. Pelas datas, continua ele, “se depreende que as vinhas na encosta” [do São Bartolomeu] já seriam muito mais antigas”. O relatório do Governador Civil de 1870, assinala a produção do vinho, do vinagre e, da aguardente [“o vinagre foi importantíssimo, produzido em grandes quantidades”], continuava o Dr. Cardoso. O vinho, 4.500 Pipas em Bragança, a seguir a Vinhais com 8.000. Quanto ao vinagre Bragança mantêm o 2.º lugar com 24 pipas, contra o 1.º de Mirandela com 72. Já na aguardente Bragança é cabeça de série com 230 pipas, contra as 58 de Vimioso e Mirandela. As médias de produção vinícola dos 5 anos anteriores a 1860, a nível do distrito, Bragança mantêm-se ainda a atrás de Vinhais, com uma produção de 5.700 pipas, contra as 5.954 da “Sintra Transmontana”. Já no que toca ao consumo Bragança bebe 1.014 pipas e, Vinhais 718. Vinhais exporta 5.236 pipas e Bragança 4.746. Por essa altura o preço médio do pipo em Bragança ronda os 38.000 reis e em Vinhais oscila pelos 34.000.
Curiosas são também as “adegas particulares de Bragança, algumas dentro da própria vinha. Abriam no verão, enquanto a produção o justificasse. Os proprietários estavam muito bem organizados. Uma adega só abria, quando a do lado já não tivesse vinho. Havia a adega das Escadinhas, a do Dr. Morgado, a do Dr. Saldanha, a do farmacêutico Dr. Manuel João Teixeira, a do “olho …”, sim-senhor, junto à carpintaria Assis & Filhos, a do Tintureiro, a do Luciano e, a do Malaguetas” [...], assevera Manuel António Pires.

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3986

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