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D. José Cordeiro diz que “os sinais dos tempos e a alegre presença dos tempos messiânicos convidam a uma mudança de mentalidade e de vida, mediante o Evangelho”

Publicado por AGR em Qua, 2022-12-07 10:15

D. José Cordeiro, Arcebispo de Braga, presidiu à ordenação episcopal de D. Delfim, que é, agora, bispo auxiliar de Braga, e lembrou que “o bispo é, sobretudo, um servidor do Evangelho da Esperança, pela palavra, pelo testemunho de vida, pelos sacramentos, pelo governo pastoral, que conduzirá a todos à unidade da caridade”.

Na sua homilia, o antigo bispo de Bragança-Miranda frisou ainda que o governo, na Igreja, deve ser “exercido como um serviço, ou melhor, servir sem se servir”.

“Quem preside não se senta num trono nem retira a centralidade do altar, sabendo que a ação nasce da contemplação”, disse ainda D. José Cordeiro.
O prelado dividiu a sua homilia em três pontos fundamentais.

“1. Uma voz de Advento
O tempo do Advento oferece a chave de leitura de todo o Ano litúrgico e reavivada oportunidade para uma maior compreensão do mistério de Jesus Cristo. Hoje, João Baptista anuncia: «Arrependei-vos, porque está perto o reino dos Céus (Mt 3,2) e, protagonizou aquela voz que clama no deserto: «Preparai os caminhos do Senhor, endireitai as suas veredas» (Mt 3,3).

Há três verbos que ressoam interligados: converter, preparar e endireitar. A contínua conversão pessoal, pastoral e missionária é a resposta à graça com a própria graça, isto é, receber e dar sem mérito ou interesse.

A voz que grita ao coração impele-nos ao estilo de fazer e ser sinodalidade num caminho de escuta para a comunhão, participação e missão na vida eclesial. A proximidade na reciprocidade e na circularidade dinâmica entre os pastores e, entre os fiéis e os pastores, requer a inteireza e a liberdade.
Os sinais dos tempos e a alegre presença dos tempos messiânicos convidam a uma mudança de mentalidade e de vida, mediante o Evangelho, «a fim de que, pela paciência e consolação que vêm das Escrituras, tenhamos esperança» (Rm 15, 4)”, disse D. José Cordeiro.

“O Bispo é, sobretudo, um servidor do Evangelho da Esperança, pela palavra, pelo testemunho de vida, pelos sacramentos, pelo governo pastoral, que conduzirá a todos à unidade da caridade. Tamanho mistério, onde o ministério é graça, converge no gesto sacramental da imposição das mãos feita só pelos Bispos, enquanto todos guardam silêncio e rezam no seu coração para a descida do Espírito supremo”, frisou.

2. Confiados à Esperança

D. José Cordeiro lembrou ainda “o dever da santificação lembra ao Bispo que recebeu a plenitude do sacramento da Ordem, por isso, também é Sumo Sacerdote e como tal recebeu a dispensação dos meios da graça com que Cristo quis enriquecer a sua Igreja. Quem preside não se senta num trono nem retira a centralidade do altar, sabendo que a ação nasce da contemplação”.

O arcebispo de Braga sublinhou ainda que “conduzir o Povo de Deus é a terceira função confiada aos Bispos”. “O governo será exercido como um serviço, ou melhor, servir sem se servir”, destacou.

D. José Cordeiro recordou que “muitos bispos pediram ao Cardeal Carlo Maria Martini para traçar um perfil do Bispo”. “Ele aceitou o desafiante pedido e, Arcebispo emérito de Milão, em 2011, um ano antes da sua Páscoa eterna, sintetizou assim o serviço episcopal:

«Integridade. O livro do Eclesiastes ensina: «Não digas: “Porque que é que os tempos passados eram melhores que os de hoje?” Não é a sabedoria que te faz levantar essa questão». Lealdade. Precisam-se homens verdadeiros, capazes de não mentir por nenhum motivo. Paciência. Cinco são as virtudes do Bispo: primeiro, a paciência; segundo, a paciência; terceiro, a paciência; quarto, a paciência; quinto, a paciência com aqueles que nos demandam a ter paciência. Misericórdia. A dor e o sofrimento deste mundo pedem à Igreja que exerça a sua função de proximidade como mãe terna e atenta. Boa educação. Ternura no trato. Firmeza paterna. Amor pela beleza e as suas formas.  Saber rir de si e das próprias fragilidades. Saber pôr-se em discussão e reconhecer os próprios erros sem muitas autojustificações. Isto para que não se tenha a impressão de falar com um “autómato”, demasiado rígido e seguro das próprias respostas. Homem humilde que vence as durezas com a docilidade e sabe ser discreto. Mas, tudo isto só se pode obter na centralidade do Evangelho de Jesus Cristo, a Palavra do Pai atuada pelo Espírito Santo, do qual desceu e desce todo o bem sobre a terra, por todos os séculos dos séculos».

Caríssimo irmão D. Delfim é um desafio imenso, mas Deus é infinitamente maior!”, disse, deixando ainda um desafio:
“Na proximidade paterna, fraterna, pastoral e amiga, doa-te a todos quantos Deus confia ao teu cuidado: os Presbíteros, os Diáconos, as Pessoas consagradas, os seminaristas, os ministérios laicais, as famílias, os jovens e os mais velhos, os pobres, os doentes, os migrantes, os reclusos, os refugiados e quem mais precisa da compaixão, ternura e misericórdia”.

3. A alegria do azeite

“Nas tuas insígnias episcopais sobressai o azeite, um precioso fruto das nossas terras transmontanas, lugar de encanto e encontro com a beleza da casa comum. O sumo da azeitona da oliveira, onde cai, marca. Com razão, o azeite perfumado do Crisma é o bálsamo da unção espiritual”, explicou D. José, referindo, ainda, que “o azeite é o mais excelente de todos os líquidos”. “Toma água e deita-lhe azeite por cima: o azeite vem ao de cima. Toma agora azeite e deita-lhe água por cima: o azeite vem ao de cima. Se observares a ordem, o azeite é vencedor, se alterares a ordem, continua a ser vencedor”, apontou.

Por fim, dirigiu-se aos fiéis presentes. “Caros irmãos e irmãs, na felicidade agradecida pelo dom recebido num membro do Presbitério de Bragança-Miranda para o episcopado e na espera ativa de um novo Pastor para esta querida Diocese, continuemos juntos a peregrinar com coragem, paciência e confiança os caminhos do Advento do Reino dos Céus.

A Senhora da Assunção e das Graças e de todos os nomes belos, São José, São Bento e os Santos Arcebispos de Braga intercedam por todos nós.”

 

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