Nordeste Transmontano

Já há barragens de regadio com menos de metade da capacidade de armazenamento de água

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2022-02-10 17:46

Algumas das barragens de regadio de Trás-os-Montes estão já com menos de metade da sua capacidade de armazenamento de água, havendo mesmo casos em que as barragens têm pouco mais de um terço de água, quando ainda estamos a meio do inverno.

 É o caso da barragem de Vale Madeiro, em Mirandela, que está com apenas 36,75 por cento da sua capacidade de armazenamento utilizada.
Também Arcossó, em Chaves, tem apenas 37,30 por cento de água armazenada, enquanto que, no concelho de Bragança, é a barragem de Gostei a mais depauperada, com apenas 42,34 por cento de água armazenada.

Também a barragem da Burga, em Alfândega da Fé, está a menos de metade da sua capacidade, sendo que a média atual é de 64,69 por cento de armazenamento de água na região.

Dados que levam a Diretora Regional de Agricultura e Pescas do Norte, Carla Alves, a reconhecer que "a situação é grave".
"Estamos muito preocupados, a situação é grave mas as consequências e a dimensão do problema poderão ainda ser perfeitamente alterados se nos próximos meses de março a abril se verificar precipitação suficiente", explica Carla Alves.

A mesma responsável garantiu, em declarações ao Mensageiro, que "a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte está a efetuar o acompanhamento da situação, nomeadamente no que concerne aos recursos hídricos disponíveis e à evolução do estado das culturas".

Para já, a situação está a ser monitorizada. Para além das barragens, a DRAPN mantém-se atenta aos níveis de água no solo. Com o inverno ainda em progressão, as necessidades da maioria das culturas ainda não são muitas mas o pasto dos animais já preocupa.

"Apesar de estarmos com uma situação preocupante, nomeadamente mais relacionada com a disponibilidade das reservas de água para rega, e  nesta situação não estamos só a verificar e a acompanhar as 'grandes reservas de água', mas também a evolução das quantidades de água no solo e o estado das nascentes, minas de água e poços, deste acompanhamento, podemos identificar as seguintes questões:

- Considerando que estamos perante uma situação que poderá evoluir favoravelmente, a maioria da culturas permanentes da Região de Trás-os-Montes, encontram-se numa fase de dormência vegetativa  pelo que a necessidade hídrica para o desenvolvimento das plantas, nesta fase não é preocupante, no entanto toda a situação é alterada se a falta de chuva continuar;

Em relação aos cereais e mantendo-se a atual situação de falta de água no solo, a produção de grão poderá ser seriamente afetada.

Em relação à produção forrageira, nos produtores pecuários existe alguma apreensão sobre qual será a evolução dos pastos e pastagens nos próximos tempos, uma vez que a continuação do tempo seco vai impedir o normal desenvolvimento das mesmas, originando a baixa produção de forragens, obrigando os produtores a recorrer à compra de alimentos grosseiros, tais como feno e palha. Esta situação pode onerar bastante os custos de produção e tornar a mesma economicamente inviável.

Devemos referir que toda esta situação poderá agravar-se ou melhorar dependendo dos níveis de pluviosidade que possam ocorrer nos próximos tempos (março e abril)", relatou Carla Alves.

Apesar de garantir que, para já, o impacto ainda não é grande, a continuar a falta de chuva o ano agrícola pode ser seriamente afetado.
"Apesar de a situação poder indicar que estaremos perante a possibilidade deste ano agrícola ser severamente afetado pela seca, ainda não é visível um impacto significativo em nenhuma cultura, mesmo em relação à produção dos pastos e pastagens, uma vez que estes, durante os meses mais frios possuem uma produção muito diminuta.

No entanto a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte, continua a monitorizar a evolução do estado das culturas. Como já foi referido toda esta situação poderá evoluir de diferentes formas caso a atual situação de falta de chuva e a respetiva seca se mantenha ou se caminharmos para uma normalização da pluviosidade, na primeira situação teremos um impacto muito negativo em toda a produção agropecuária da região de Trás-os-Montes, na segunda situação teremos uma normalização das produções agropecuárias.

Estamos, efetivamente, entre o ponto de não retorno ou o regresso da normalidade", avisa Carla Alves.
A Diretora Regional de Agricultura deixa, no entanto, alguns conselhos aos agricultores:

"Neste momento, os agricultores deverão estar atentos ao desenvolvimento das culturas, verificar a sua evolução e acompanharem as informações do Ministério da Agricultura, principalmente as medidas que poderão vir a ser autorizadas pela Comissão Europeia, como seja a possibilidade de antecipação das ajudas e/ou o  levantamento de medidas de caráter administrativo nos regimes de apoio aos agricultores, em situações pontuais", disse.

No entanto, há já medidas tomadas:
"Na reunião interministerial da Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca, ficou decidido o seguinte para o setor agrícola:

No respeitante aos aproveitamentos hidroagrícolas, se reforçará a sua monitorização, assim como a das barragens de natureza privada. De igual modo, retoma-se a participação dos agentes do setor agrícola nas reuniões das subcomissões, no âmbito da Comissão de Gestão de Albufeiras.
Quanto ao abeberamento animal e estado das culturas, foi decidido:

• Intensificar o acompanhamento da evolução do estado das culturas ao nível das Direções Regionais de Agricultura;
 • Reiniciar trabalhos de levantamento das necessidades de investimento em captação e transporte de água e aquisição de equipamentos para abeberamento de gado;
• Dar continuidade à avaliação da possibilidade de instalar pontos de água ou cisternas associadas a albufeiras de águas públicas, garantindo, assim, uma rede de suporte em situações de contingência de seca.
Quanto às medidas administrativas dos regimes de apoio aos agricultores, ficou decidido:

• Fazer o levantamento das medidas de carácter administrativo nos regimes de apoio aos agricultores (medidas de superfície dos Pagamentos Diretos e do Desenvolvimento Rural) para mitigar o impacto da seca na atividade agrícola;
• Solicitar à Comissão Europeia a redução das taxas de controlo, a autorização para reforço dos adiantamentos das medidas de apoio às superfícies e a simplificação da atribuição dos adiantamentos, em linha com as medidas de exceção tomadas no quadro do apoio aos impactos da Pandemia da COVID 19;
 • Continuidade da execução da medida de apoio à eletricidade verde;
• Abertura, em fevereiro, de um Aviso no âmbito da Medida 3.4.2 do Programa de Desenvolvimento Rural, no valor de 2,5 milhões de euros, para a aquisição e instalação de painéis fotovoltaicos nos aproveitamentos hidroagrícolas", concluiu.

 

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